- Folha de S. Paulo
O que significaria não ser frouxo com Jair Bolsonaro?
A primeira regra dos manuais de sobrevivência é a de que, diante de uma emergência ou ameaça, não podemos entrar em pânico.
Contra todas as minhas advertências, a maioria dos brasileiros deverá votar no próximo domingo em Jair Bolsonaro para ser o presidente do Brasil pelos próximos quatro anos. A parcela dos cidadãos que consideramos essa escolha desastrosa não podemos fazer muito para mudar isso.
Com efeito, gritar mais alto ou xingar o candidato de nomes mais feios não deve alterar a opção da maioria. Repisar argumentos racionais contra a eleição do militar reformado também parece, a essa altura, pouco efetivo.
O que significaria não ser frouxo com Bolsonaro? Esfaqueá-lo? Isso já foi tentado, sem muito sucesso. Talvez devêssemos pedir a anulação do pleito, com base numa recém-iniciada investigação de financiamento ilegal. Nesse caso, porém, receio que estaríamos agindo contra a democracia que dizemos defender.
Já afirmei inúmeras vezes neste espaço que Bolsonaro é, a meu ver, o mal maior. Além do risco às instituições liberais, ele e sua equipe parecem inteiramente despreparados para o desafio de administrar o país. Também não reconheço nele estatura moral para a Presidência, como se depreende da covarde campanha de ameaças a jornalistas que ele tolera, se é que não comanda.
Ainda assim, a menos que ocorra uma virada histórica, Bolsonaro deve ser eleito —e isso não significará, pelo menos não automaticamente, o fim da democracia. O futuro permanece aberto. O tamanho dos retrocessos que experimentaremos, aliás, dependerá de nossa capacidade de nos organizar nas linhas secundária e terciária de defesa das instituições. Esforços para tentar moderar os piores instintos do candidato também são bem-vindos.
É preciso parar com os chiliques e faniquitos e começar a agir racionalmente dentro do leque das opções que se apresentam, não das sonhadas.
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