“No entanto, com tudo isso, ainda podemos ter o registro de sermos um dos países mais tolerantes do mundo em termos de convivência entre religiões, entre etnias diferentes. Mas tudo que era da nossa tradição foi depredado, foi jogado no lixo da história. O resultado não se fez esperar. A candidatura de Bolsonaro contém todos esses elementos de reação ao que fomos, ao que temos sido, mas pode-se dizer também que o PT se comportou do mesmo modo, desqualificando o tempo todo a nossa história e os nossos feitos, que não foram poucos. Basta ver que somos um país emergente do terceiro mundo que cumpriu uma das agendas mais vitoriosas de modernização: estão aí a nossa indústria, a nossa agricultura.
Não temos uma história desprezível para começar tudo de novo, como na verdade, ao fundo, tanto a campanha de Lula quanto a de Bolsonaro fizeram. Nesse sentido há um elemento de confluência entre a campanha de Bolsonaro e a de Haddad, que não pode ser obscurecido. Alguns traços são muito significativos disso: a fala do candidato a vice-presidente da República sobre a nossa composição étnica e as hipotecas negativas que elas comprometem a nossa história, é um registro. O tema do racialismo que setores da esquerda petista têm trazido para a cena política com a aparência de irem no sentido contrário, reforçam essa questão de não reparar, de não valorizar o processo extraordinário que criamos aqui de convivência entre tradições, culturas e etnias diferentes.”
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Luiz Werneck Vianna, sociólogo, PUC-Rio. Entrevista: ‘Depois do “teatro de sombras”, Brasil precisará se reinventar e sair do caminho da prancheta.’, Blog Democracia Política e novo Reformismo, 23/10/2018
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