Raymundo Costa | Valor Econômico
BRASÍLIA - A campanha de Geraldo Alckmin está com infiltração bolsonarista no telhado e nas paredes, mas o PSDB deve liberar o voto de seus militantes no segundo turno, se o candidato do partido ficar pelo caminho. Tanto Jair Bolsonaro (PSL) como Fernando Haddad (PT), os dois mais prováveis litigantes do segundo turno, segundo as pesquisas, têm dificuldades para conseguir o apoio tucano - isso muito embora Haddad tenha simpatizantes entre os mais velhos e Bolsonaro, a de quem está na rinha eleitoral.
"O Jair é complicado, principalmente para os mais velhos", afirma um dos fundadores do partido, "mas os problemas que o PT criou no governo não nos ajudam a apoiar o Haddad". O PSDB, com raras exceções, evita falar abertamente sobre o fracasso da candidatura Alckmin, até porque em 2014 já consideravam morto o candidato Aécio Neves, mas o senador mineiro virou sobre Marina Silva (Rede) nas 72 horas que antecederam a eleição.
É consensual, no entanto, que a chance de Alckmin é quase zero e ele dificilmente estará no segundo turno, o que coloca desde já o partido diante do impasse de decidir entre o apoio a Bolsonaro ou Haddad. O mais provável é que os tucanos voem para cima do muro, o lugar que mais gostam e caracterizou o partido nos últimos anos.
O PSDB histórico não vai apoiar o candidato do PSL, apesar da ampla infiltração bolsonarista, devido a oposição dele em relação a bandeiras caras ao partido, como a defesa do direitos humanos e das minorias, só para citar dois exemplos. A matriz autoritária da candidatura de Bolsonaro também assusta.
Haddad é um nome simpático a setores do PSDB, como Fernando Henrique Cardoso. Mas o que se espera é que nem ele avance nessa direção. Apoiar o PT, partido com o qual os tucanos fizeram contraponto nos últimos 24 anos, seria a negação de tudo o que fez o PSDB desde que virou oposição.
Além disso, depois de muito relutar, a campanha de Alckmin também adotou um tom mais agressivo em relação a candidatura de Haddad nos últimos dias, o que só dificulta qualquer conversa.
"O PSDB acabou", diz o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, tucano de primeira extração que está apoiando a candidatura de Marina Silva para presidente. "Que PSDB é esse que foge das reformas da Previdência e tributária, propostas que sempre estiveram na agenda do partido".
No Amazonas de Virgílio, Bolsonaro está com mais de 40% dos votos válidos, segundo os cálculos do prefeito. Nem por isso ele pretende se bandear. Virgílio acha que as opções para o segundo turno, confirmados PSL e PT, na última etapa do certame. equivalem a um "tiro na testa"
O fracasso do PSDB na eleição de 2018, confirmado que Alckmin não estará no segundo turno, pode levar ao primeiro cisma partidário desde a fundação do PSDB, em junho de 1988. O prefeito Arthur Virgílio é um dos que podem sair para um novo partido. Outro pode ser o senador Tasso Jereissati (CE), ex-presidente do partido e nome sempre cotado - e preterido - para candidato do PSDB às eleições. O que pode ser um problema para um partido que não renovou suas lideranças.
"A partir do momento que eu achar, o professor Anastasia também achar, que o candidato Alckmin não vai realmente ao segundo turno, nós precisamos dar as mãos ao candidato Bolsonaro", disse Marcos Montes, o candidato a vice do senador Antonio Anastasia ao governo de Minas. O candidato é do PSD, mas foi aplaudido em um evento de campanha do PSDB, numa amostra do humor do militante tucanos em relação à candidatura de Alckmin.
A criação da chapa Bolsodoria em São Paulo mostrou as rachaduras da infiltração que ameaça derrubar a casa de Alckmin. Bolsodoria, evidentemente, reúne apoiadores do candidato do PSDB ao governo de São Paulo, João Doria, que estão com o candidato do PSL - e não com Alckmin - ao Palácio do Planalto. No último fim de semana, o governador e candidato à reeleição no Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja, reconheceu que o PSDB está dividido e não deve ter "preconceitos [a Bolsonaro]" ao tratar da posição do partido em relação ao segundo turno.
Uma das vozes influentes entre os caciques tucanos, o senador Cássio Cunha Lima (PB) encontrou outra maneira de abordar a questão: o partido deveria abandonar os ataques a Bolsonaro e se concentrar nas críticas ao PT. Em Goiás, o primeiro-vice presidente do PSDB, Marconi Perillo, tem boa relação com o PT mas seu principal adversário Ronaldo Caiado (DEM), está com Bolsonaro, líder das pesquisas no Estado. Caiado, alvo de operação da Polícia Federal na última sexta-feira, é candidato ao Senado.
Na campanha de Alckmin, a candidata a vice Ana Amélia (PP) comanda o ataque final ao PT. Discretamente, ela recusou um convite para participar da manifestação de mulheres #EleNão.
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