Daniel Rittner, Cristiano Zaia, Cesar Felicio, Thais Carrança, Luiz Henrique Mendes, Marcos de Moura e Souza, Marina Falcão, Juliana Schincario | Valor Econômico
BRASÍLIA, SÃO PAULO, BELO HORIZONTE, RECIFE E RIO - Os atos realizados no sábado contra o candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL), se transformaram no maior conjunto de manifestações, em um único dia, desde a sucessão de protestos pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT) há pouco mais de dois anos.
Os números de manifestantes são incertos porque, em muitas cidades, a Polícia Militar evitou divulgar estimativas. Organizadores dos atos calculam que 600 mil pessoas foram às ruas em todo o país.
O dado contrasta com a surpreendente falta de mobilização por ocasião da prisão do então líder nas pesquisas presidenciais, Luiz Inácio Lula da Silva, em abril deste ano. Repetidas vezes o PT e seus aliados prometeram tomar as ruas quando se concretizasse a prisão do petista, mas nada aconteceu de realmente significativo.
Com o sinal trocado, Bolsonaro continua mobilizando. Nunca houve ato massivo de repúdio a um candidato a presidente na história recente do país. A manifestação do sábado indica que as ruas começarão a falar ao longo da campanha no segundo turno.
Para o cientista político Fábio Wanderley Reis, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os protestos foram de "grande visibilidade" e tiveram "forte viés de esquerda". Ele acredita que Fernando Haddad (PT) e, marginalmente, Ciro Gomes (PDT) podem ser beneficiados. "Estamos vendo uma tendência de ascensão do Haddad, que deve ser fortalecida com isso", afirma o professor, esperando um reflexo favorável ao petista ainda no primeiro turno.
Os presidenciáveis aproveitaram para demonstrar sintonia com o sentimento de repúdio a Bolsonaro. "Ele foi derrotado pelo que há de mais sadio na sociedade brasileira. Graças a Deus e ao valor da mulher brasileira", disse Ciro, em São Paulo, voltando a criticar a "polarização odienta" entre PT e Bolsonaro. "Eles estão querendo trazer para dentro do Brasil essa confusão que está descambando para a guerra civil na Venezuela. Está na hora de a gente desarmar essa bomba. O Brasil não aguenta essa confrontação", acrescentou.
Geraldo Alckmin (PSDB) disse que as manifestações contra Bolsonaro mostraram que a população não concorda com a intolerância. E usou o lema dos protestos para atacar o PT, que considera o outro extremo nas eleições. "Sou daqueles que defende o 'ele não e nem o outro'. O caminho não é nem um, nem o outro. Eles têm grande rejeição e vão ter dificuldade de governar."
Em Belo Horizonte, a Avenida Afonso Pena foi tomada por manifestantes na altura da Praça Sete de Setembro, em ato pacífico que reuniu milhares de pessoas. "O que me preocupa é que a gente parece estar à beira de um golpe", disse a sanitarista Sandra Gonçalves, de 46 anos. Seu temor é como militares que apoiam Bolsonaro vão agir caso ele perca.
Organizadora do grupo Médicos contra Bolsonaro, que reúne 500 profissionais da categoria e 250 estudantes, Norma Arteiro protestou no Recife contra o plano de governo do candidato do PSL. "Acreditamos que pode haver um sucateamento do SUS e a descontinuidade de programas de referência internacional, como o de prevenção ao HIV", afirmou.
Em quase todas as cidades, bandeiras de partidos de esquerda - PT, PSol e PSTU - eram empunhadas por manifestantes.
No meio da multidão que caminhava em São Paulo rumo à Avenida Paulista, portando um cartaz em forma com os dizeres "#elenão Atibaia", Heloísa de Carvalho Martins Arribas chamava atenção ao protestar vestindo um colete à prova de balas embaixo da roupa. Ela explicava: é filha do ideólogo de direita Olavo de Carvalho. "Faz um ano que travo briga com Olavo e, como ele apoia Bolsonaro, aderi ao #elenão", disse Heloísa, chamando o candidato do PSL de "fascista" e "homofóbico".
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