Por Vandson Lima e Fabio Murakawa | Valor Econômico
SÃO PAULO - No penúltimo debate entre os presidenciáveis na televisão antes do primeiro turno das eleições deste ano, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) foram alvos preferenciais dos outros candidatos, que elevaram o tom das críticas na reta final da campanha.
No encontro organizado pela Rede Record na noite de domingo (30), Bolsonaro não compareceu. Ele se recupera de uma facada que levou em 6 de setembro em sua casa, no Rio de Janeiro. Mas nem por isso o líder nas pesquisas foi poupado.
Logo no início do debate da Record, Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede), Henrique Meirelles (MDB) e Alvaro Dias (Podemos) “levantaram a bola” um ao outro para que fossem feitas diversas censuras ao comportamento de Bolsonaro e suas propostas.
“Eu, no outro debate, vim com uma sonda pendurada na perna. Bolsonaro felizmente já teve alta. É candidato e se recusa a vir ao debate, fazendo declarações anti-povo, anti-pobre, nem dá ao povo direito de ouvi-lo”, atacou Ciro.
Marina, na sequência, seguiu na mesma linha. “PT e Bolsonaro são cabos eleitorais um do outro”, criticou. Para Marina, Bolsonaro busca justificativas para a futura derrota ao dizer que não reconhecerá o resultado das urnas se não for o vencedor. “Bolsonaro tem atitude antidemocrática. Fala muito grosso, mas tem momentos em que ele amarela. São palavras de quem prevê a derrota. Brasil não precisa ficar entre a espada da corrupção ou a cruz do Bolsonaro”.
Meirelles também entrou no jogo e afirmou que “nenhum país democrático tem um Bolsonaro como presidente”. Por fim, Alvaro Dias (Podemos) previu que “as pessoas de bem haverão de sacudir o país nesses últimos dias, evitando o retorno da organização criminosa que assaltou o Brasil [referindo-se ao PT] e também a marcha da insensatez”.
Isolado e participando do debate apenas no fim do primeiro bloco, Geraldo Alckmin (PSDB) tentou pegar carona no tema, lembrando os protestos contra Bolsonaro, mas sem força. “As mulheres deram grande exemplo de civismo. Metade da população brasileira não quer nem os radicais de esquerda, nem de direita. União é a palavra nesse momento”.
Haddad passou por constrangimentos por conta da aliança do PT com líderes do MDB no Nordeste, incluindo políticos que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff.
Guilherme Boulos (Psol) citou o apoio do PT a Renan Calheiros em Alagoas e Eunício Oliveira, presidente do Senado, no Ceará. “Nós não vamos superar o golpe governando com golpista”, afirmou Boulos a Haddad. O petista respondeu que as alianças são regionais e buscou destacar que sua aliança nacional é com o PCdoB da vice Manuela D’Ávila e o Pros.
Tentando fazer um gesto a Ciro e Boulos, Haddad concluiu dizendo ainda ser do campo “democrático e popular”, assim como os dois. “No segundo turno nós vamos verificar quais são as forças políticas mais próximas do nosso programa de governo, que é o nosso norte”, disse.
Só que Ciro, na pergunta seguinte, não retribuiu o aceno e fez questão de se diferenciar de Haddad. “Quanto ao Eunício Oliveira, eu vetei a participação dele na aliança no Ceará porque ele é corrupto”, disse a Haddad. “Você despudoradamente foi para lá e endossou essa aliança”.
Ciro Gomes (PDT) aumentou ainda mais o tom em sua busca por confrontar Fernando Haddad (PT) e equiparou o petista ao General Mourão, vice de Jair Bolsonaro (PSL), por conta das propostas de alteração da Constituição.
O vice de Bolsonaro propôs a criação de um “grupo de notáveis” para escrever uma nova Carta, enquanto o plano de governo do PT fala na possibilidade de uma Constituição mais enxuta.
“Nossa proposta não tem nada a ver com a do general Mourão”, disse Haddad. “Eu repudio desde a juventude todos os governos autoritários de direita e de esquerda. Tudo se resolve pelo voto, inclusive a Presidência da República.”
Haddad afirmou que “a Constituição de 1988 já tem mais de cem emendas constitucionais”. E que o ex-presidente Lula “imaginava que pudéssemos criar as condições para que tivéssemos uma constituição mais moderna, mais enxuta” para “restabelecer equilíbrio entre os poderes”.
Ciro insinuou que Haddad está sendo usado para promover, por meio dessa proposta, “uma vingança” contra quem promoveu o impeachment de Dilma Rousseff.
Em um embate com Guilherme Boulos (Psol), Haddad prometeu trabalhar pela revogação da reforma trabalhista. Porém, ele não respondeu à provocação de Boulos sobre se seria contra “qualquer tipo de reforma da Previdência”.
Boulos também provocou Henrique Meirelles sobre a defesa que o programa do MDB faz do programa “Escola Sem Partido”, questionando o emedebista sobre se ele é favor de discutir em sala de aula a violência contra os homossexuais.
“Nós temos que estabelecer essa discussão nas escolas. Mas tem que ser sobre toda a violência”, respondeu Meirelles. “Não é possível admitir a violência contra o LGBT, mas ignorar a violência contra as mulheres. Não podemos admitir a violência de raça.”
Geraldo Alckmin prometeu aumentar o salário mínimo acima da inflação e procurou se comunicar com o telespectador em nome de uma mudança no cenário eleitoral, no qual aparece em quarto lugar. “É a última semana que vale, a última onda. Bolsonaro e PT são os extremos, precisamos de união”.
O próximo debate, o último antes do primeiro turno, será na quinta-feira (4) na TV Globo.
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