Diluir na pasta da Agricultura ministério que trata do assunto não interessa ao mercado
Idas e vindas em anúncios feitos por futuros governantes podem ser entendidas como naturais neste momento, devido à fase de montagem de equipes. Mas sempre devem ser evitadas, porque afetam a imagem do governo que vai assumir, fragiliza sua posição antes do começo do jogo.
Se envolverem assuntos estratégicos, os danos são piores. É o que acaba de acontecer no caso da equivocada transferência das funções da pasta do Meio Ambiente ao Ministério da Agricultura, ideia aceita, mas depois afastada por Jair Bolsonaro diante de bem fundamentadas críticas.
Mas, na terça-feira, o presidente eleito voltou atrás mais uma vez, para reafirmar a diluição da pasta do Meio Ambiente na burocracia que trata da produção agropecuária.
O fato de esta proposta originalmente ter sido do presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, preocupa, porque indica prevalecer a visão atrasada de que a produção deve preponderar sobre a conservação, quando, na verdade, as duas esferas precisam se harmonizar. Afinal, a produção depende de solo preservado e da água disponível. Se florestas forem degradadas, o regime de chuvas será afetado, e a agropecuária padecerá.
Agredir o meio ambiente é péssimo para os negócios. Daí grandes empresas mundiais de alimentos, comercializadoras de grãos e carnes, se aliarem a produtores para que todos atendam a protocolos preservacionistas. Passam a ser exigidos certificados da origem de matérias-primas alimentícias, para barrar produtos cultivados em regiões de desmatamento ilegal.
Ou seja, no circuito da produção e comercialização em escala mundial se consolida o entendimento sensato de que cuidar do meio ambiente é proteger o negócio.
A questão não tem mais a ver apenas com abnegados “verdes” e “preservacionistas”. Informações divulgadas pelo GLOBO, elaboradas pelo economista Bernardo Strassburg, diretor do Instituto Internacional para a Sustentabilidade e também professor da PUC-Rio, provam na ponta do lápis que um hectare de floresta preservada pode gerar mais dinheiro do que ser for desmatado para a pecuária e o cultivo de soja. Não significa que se deva abrir mão da agropecuária, mas gerenciar a exploração da terra a partir de uma visão mais ampla.
Outro problema na diluição do Ministério do Meio Ambiente na Agricultura é que ele não trata apenas da produção agropecuária. Há uma série de atividades ligadas à indústria, por exemplo, e a outros setores que não podem ficar em segundo plano.
Espera-se também que o recuo na decisão de manter os dois ministérios independentes não seja a primeira evidência da prática do fisiologismo para a obtenção de votos no Congresso, o que o presidente eleito prometeu não fazer. Porque seria repetir erros dos governos lulopetistas.
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