quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Bernardo Mello Franco: O alerta de Marina

- O Globo

Para a ex-senadora Marina Silva, a fusão das pastas do Meio Ambiente e da Agricultura causará um ‘retrocesso incalculável’ no campo

A fusão dos ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura causará um “retrocesso incalculável” no campo. O alerta é de Marina Silva, que se diz apreensiva com a medida anunciada pelo presidente eleito Jair Bolsonaro.

“Ele disse que ia rever a ideia, mas parece que foi só estratégia eleitoral”, critica a ex-senadora. Ela define a proposta como “desastrosa”. “Hoje um ministério fiscaliza, o outro é fiscalizado. Um licencia, o outro é licenciado. Como vão ficar os conflitos de interesses?”, questiona.

Para Marina, ministra do Meio Ambiente de 2003 a 2008, a dissolução da pasta põe em risco órgãos como Ibama e ICMBio. “A mensagem que está sendo passada é de incentivo à contravenção. Quem fará o combate à grilagem e ao desmatamento?”, pergunta.

O desmantelamento da área ambiental também causará constrangimentos no exterior, diz a ex-ministra. “Isso passa a imagem falsa de que todo o agronegócio quer a expansão predatória da fronteira agrícola. Estão dando o argumento para quem quer impor novas barreiras tarifárias ao Brasil”.

Marina diz que as declarações de Bolsonaro sugerem “uma visão atrasada do desenvolvimento”, como se a economia ainda estivesse no século XIX. “Ele não tem compreensão dos problemas. É possível gerar empregos com energia limpa, reflorestamento. O mundo está caminhando em outra direção”, afirma.

A ex-senadora também se diz assustada com as ideias do presidente eleito sobre temas como reservas indígenas e segurança pública. Ela critica a insistência em revogar o Estatuto do Desarmamento. “O governo ainda nem começou e já recebemos sinais preocupantes em várias áreas. Vejo a possibilidade de muitos desastres”, resume.

De Fernando Haddad sobre os livros exibidos por Bolsonaro em seu discurso da vitória, no domingo: “Você não tem como governar com a Bíblia e a Constituição. Ou o Estado é laico ou não é”.

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