Ditadura chavista sofre abalo com apoio a opositor que se declarou presidente
Quando o carcomido regime chavista chegar ao fim, os venezuelanos se lembrarão de 23 de janeiro de 2019 como um ponto de inflexão no processo de restabelecimento da ordem democrática.
A multidão que protestou nas ruas de Caracas promoveu o que até agora é o maior gesto de contestação ao ditador Nicolás Maduro. Diante dos manifestantes, o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, declarou-se no comando interino do país e incumbido de conduzir um governo transitório até que se realizem novas eleições.
Na sua visão, partilhada por diversos países, Maduro não tem legitimidade para ocupar a Presidência, pois seu novo mandato foi conquistado num pleito repleto de fraudes e restrições à oposição.
Não surpreende, assim, que a autoridade de Guaidó logo tenha sido reconhecida pelos países mais relevantes da região, entre eles Estados Unidos e Brasil. Tal apoio reflete um movimento de pressão internacional, em curso há meses e intensificado após o último dia 10, quando o ditador ordenou o teatro da posse para seu novo sexênio.
A entrada em cena desses atores globais insufla os ânimos de quem torce pelo fim do descalabro na Venezuela, e não restam dúvidas de que o país sairá da ruína social e econômica em que se encontra somente quando se vir livre do jugo deletério do chavismo.
O imbróglio, contudo, não se resolverá apenas com isso. No plano doméstico, Guaidó não dispõe dos elementos necessários para governar de fato. Maduro ainda conta com a lealdade do Judiciário e da cúpula das Forças Armadas, bancada por dinheiro de corrupção.
Além disso, no quadro externo, o ditador ostenta como aliadas a Rússiae a China, que seguramente usariam o poder de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas para frustrar qualquer resolução pelo uso da força contra Caracas.
Nesse ponto, a propósito, cumpre louvar a rejeição do governo brasileiro à ideia de uma intervenção militar —posição reiterada pelo vice-presidente, Hamilton Mourão, ao evocar o princípio da não interferência, que norteia a atuação do Itamaraty.
Por penoso que seja esperar, não há outra via possível senão a solução negociada, o que implica buscar um canal de comunicação com a ditadura. Assim recomendou o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertando para o risco de um conflito caso se mantenha esse impasse —em termos mais claros, a hipótese de uma guerra civil.
O endosso a Guaidó deveria ser entendido, pois, como um recurso para impelir Maduro a se comprometer com uma transição pacífica.
Ao autoproclamado presidente cabe aproveitar o capital político que tem recebido para unificar a oposição e manter o nível de mobilização popular.
O regime se sabe insustentável, mas é fundamental que seu ocaso transcorra sem aprofundar ainda mais a agonia venezuelana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário