A família Bolsonaro, capitaneada pelo pai agora presidente da República, abraçou bordões simples em sua trajetória política. Deve parte do sucesso eleitoral a essa estratégia. Falar a linguagem do povo é a aspiração de qualquer liderança. “Ser honesto não é virtude, é obrigação”, repetiu por diversas vezes Jair Bolsonaro, antes de ser presidente. O senador eleito pelo Rio de Janeiro Flávio Bolsonaro, em tom popularesco, refutou insinuações contra si de malversação com um arremedo de adágio: “Quem só andou com porcos acha que, no reino animal, só há porcos”.
O vice-presidente Hamilton Mourão resumiu o imbróglio recente envolvendo o filho do presidente com uma blague: “O único problema do senador Flávio qual é? Sobrenome, não é? Se o sobrenome dele fosse Silva...”.
Em Davos, o presidente Bolsonaro deu um veredito salomônico à polêmica que cerca o filho: “Se por acaso ele errou, e isso for provado, eu lamento como pai, mas ele terá de pagar o preço por essas ações que não podemos aceitar”.
Os Bolsonaros demoraram a entender que, no mais alto posto da administração pública, as exigências éticas e de probidade têm padrões equivalentes. Eles mostram-se claudicantes desde que vieram à tona as revelações de movimentação financeira incompatível de um funcionário do gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Avolumam-se os indícios de que Fabrício Queiroz coletava parte do salário dos funcionários do gabinete e direcionava o dinheiro ilegalmente para o patrão de todos. Em três anos, a movimentação financeira superou os R$ 7 milhões. Flávio Bolsonaro define-se como um empreendedor e atribui seu crescimento patrimonial nos anos recentes a transações comerciais legais. O patrimônio de Flávio mais que dobrou no período em que se dedicou à política como atividade principal.
Nesta semana, as suspeitas ampliaram-se com a descoberta de uma conexão entre Flávio Bolsonaro com a cúpula do Escritório do Crime, grupo de milicianos que se presta a assassinatos e extorsões, entre outros crimes de prática continuada. Como deputado estadual, Flávio empregava a mulher e a filha do chefe da milícia do Rio das Pedras e tido como o homem forte da organização criminosa.
As manifestações do núcleo bolsonarista nessa crise — que podem ser interpretadas como engraçadas, emocionais ou familiares, mas nunca como transparentes e republicanas — embutem método e crença. Partem do princípio de que devem ser simplórias para que sejam diretas e rapidamente consumidas pela maior parte da população, reforçando o capital político familiar com aposta na comunicação direta com seus apoiadores. Pouco importa se as declarações são mais manobras diversionistas do que explicativas. O presidente, na afirmação que fez em Davos, indica que se distanciará do destino do filho daqui por diante, no que parece ser uma mudança de posição para preservar a si próprio de revelações futuras a confirmarem o chavão popular “tal pai, tal filho”.
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