- Folha de S. Paulo
Proposta do Banco Central enfraquece discurso do ministro contra lavagem de dinheiro
Quando abandonou o cargo de juiz, Sergio Moro disse que entraria no governo porque estava “cansado de levar bola nas costas”. Em dezembro, ele afirmou que a toga era poderosa, mas que só uma atuação dentro da política poderia evitar retrocessos no combate à corrupção.
Moro trocou de time, mas continua sendo atingido por trás. Enquanto Jair Bolsonaro fazia propaganda do ministro para os ricaços reunidos na Suíça, o Banco Central tentava afrouxar as regras de controle da lavagem de dinheiro no país.
Na largada de um governo que prometia ser implacável com crimes financeiros, a instituição propôs retirar parentes de políticos de uma lista de monitoramento. Também quis derrubar a exigência de que os bancos toquem um alarme quando fizerem transações de mais de R$ 10 mil.
Há três dias, Bolsonaro fez questão de dizer em Davos que Moro “tem todos os meios para seguir o dinheiro no combate à corrupção”. Alguém está interessado em esvaziar a caixa de ferramentas do ministro.
O novo governo parece estar preocupado em proteger e esconder. Nesta quinta (24), um decreto estendeu a funcionários de segundo escalão o poder para classificar um documento oficial como ultrassecreto, restringindo seu acesso por 25 anos.
Bolsonaro fez festa para si mesmo ao anunciar que abriria a caixa-preta do BNDES. Publicou apenas uma lista de financiamentos que já era pública e, agora, abre caminho para que muita coisa fique em segredo.
A democracia se esfarela quando a intimidação e a violência substituem a disputa política. Jean Wyllys foi reeleito nas urnas, mas se viu forçado a abandonar seu mandato por ter recebido diversas ameaças de morte.
Bolsonaro foi vítima de um atentado e já recebeu exilados da Venezuela e de Cuba, mas continua demonstrando um desrespeito infantil por seus adversários. Moro, que conhece os métodos da máfia italiana contra seus rivais, também perdeu a chance de condenar o episódio.
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