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Quem reescreve o capitão
Com licença de Otávio Rego Barros, o general que literalmente reproduz o que o chefe diz, o porta-voz de fato do capitão Jair Bolsonaro é o general Augusto Heleno, seu ex-instrutor na Academia Militar de Agulhas Negras, e ministro do Gabinete de Segurança Institucional da presidência da República.
Heleno é a sombra de Bolsonaro. Aconselha-o em todos os momentos. E quando seu antigo pupilo o contraria ou simplesmente comete asneiras, hábito que cultiva dado ao seu temperamento impetuoso e ignorância inata, lá corre Heleno a acudi-lo. O resultado nem sempre é satisfatório, mas fazer o quê?
Os presidentes João Figueiredo, o último da ditadura de 1964, e José Sarney, o primeiro pós-ditadura, costumavam chamar “o Pires” quando se viam em apuros ou queriam assustar seus adversários. Os generais Walter Pires e Leônidas Pires Gonçalves foram respectivamente ministros do Exército de Figueiredo e Sarney.
Heleno não é chamado para assustar ninguém. Cabe-lhe devolver a razão a Bolsonaro e baixar a temperatura que se eleva por toda parte sempre que Bolsonaro é… Bolsonaro. É uma tarefa difícil, essa do general. Mesmo para ele que já comandou tropas do Exército brasileiro em países conflagrados.
Foi decisiva a intervenção do general para restabelecer a paz entre Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, no caso do aumento do preço do diesel. Bolsonaro cancelou o aumento com medo de uma greve de caminhoneiros. Guedes ameaçou pedir as contas, já imaginou? Bolsonaro e Guedes são dois estourados.
Heleno atuou nos bastidores e teve êxito. Mas não é sempre que isso acontece. Na última sexta-feira, depois de seis dias de silêncio, Bolsonaro resolveu comentar o assassinato do músico carioca Evaldo Rosa dos Santos, alvo de 80 tiros disparados por nove soldados do Exército, no Rio. E o fez à sua maneira tosca:
“O Exército não matou ninguém. O Exército é do povo. A gente não pode acusar o povo de assassino. Houve um incidente. Houve uma morte. Lamentamos ser um cidadão trabalhador, honesto”.
Ora, o que um tenente, um sargento e sete soldados do Exército são? Por que estão presos? Traficantes não são. Mas quando traficantes matam é o tráfico quem mata. Quando um grupo de policiais mata traficantes ou meros suspeitos foi a polícia que matou. Não foi o Exército. Nem um comando armado das carmelitas descalças.
Chamado a consertar Bolsonaro, Heleno bem que tentou:
“O que ele disse foi o seguinte: o Exército não matou ninguém, o Exército é uma instituição que respeita profundamente os valores humanos e nunca matou ninguém. Quem matou, se aconteceu de alguém morrer na operação, foi alguém que o Exército vai responsabilizar pela morte”.
Heleno foi mal dessa vez. “Se aconteceu de alguém morrer na operação…?” Mas como? O músico não morreu? O sogro do músico que estava com ele não foi baleado? Enquanto durou a ditadura de 64, tortura e morte foram admitidas em quartéis e dependências militares. O Exército, sim, torturou e matou.
O general Heleno sabe disso. Não precisa sacar de falsos argumentos para justificar os tropeções do seu atual chefe.
O mistério de Alcolumbre
Silêncio suspeito
O Senado dispõe de um moderno parque gráfico que, entre outras coisas, imprime tudo que lhe pede cada um dos 81 senadores, quase sempre material de divulgação de suas atividades.
Mas David Alcolumbre (DEM-AP), atual presidente do Senado, preferiu gastar R$ 1 milhão da verba do seu gabinete para contratar os serviços de três pequenas gráficas em Brasília.
Foi entre 2014 e 2018. E o setor de Transparência do Senado, há três meses, recusa-se a fornecer ao jornal O Globo as notas fiscais apresentadas por Alcolumbre para justificar a despesa.
O que levou o senador a dispensar o uso do parque gráfico do Senado? Isso também ninguém está autorizado a responder. Pouca coisa se sabe sobre o uso das gráficas externas.
Sabe-se que à Arte e Imagem Gráfica, empresa do tamanho de uma sala de reuniões, Alcolumbre pagou R$ 256.980,00 em 2017. O dono da gráfica não se lembra dele nem do serviço.
As outras duas gráficas ocupam um mesmo endereço. Uma em nome de Luiz Flavio Moreira, a outra em nome da mãe dele. Na primeira, os serviços totalizam R$ 492 mil. Na segunda, R$ 279.580,00.
O jornal perguntou a Alcolumbre: Qual serviço foi prestado por cada uma dessas gráficas? Qual material foi impresso? Com qual finalidade? Qual a tiragem?
Ele se nega a responder.
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