quinta-feira, 18 de abril de 2019

Bernardo Mello Franco: Vem aí o PSDB de cashmere

- O Globo

No mês que vem, o governador João Doria deve emplacar um preposto no comando do PSDB. Os fundadores do partido o detestam, mas não devem se atrever a enfrentá-lo

Depois de encolher nas urnas, o PSDB passará por uma troca de guarda. Quarto lugar na eleição presidencial, Geraldo Alckmin deixará o comando do partido no mês que vem. Deve ser substituído pelo ex-deputado Bruno Araújo, um preposto de João Doria.

Não será uma transição indolor. O governador de São Paulo já deixou claro que pretende escantear tucanos históricos para moldar a legenda ao seu estilo. Admite até mudar o nome do partido. Tudo para pavimentar sua própria candidatura ao Planalto em 2022.

Doria anunciou as mudanças com antecedência. Em outubro, aproveitou o discurso da vitória para cutucar desafetos na sigla. “No meu PSDB, acabou o muro. Este será o novo PSDB, um partido que tem lado”, provocou.

O tucano pegou uma carona de última hora na popularidade de Jair Bolsonaro. Chegou a vestir uma camiseta amarela com o slogan “BolsoDoria”. Cinco meses antes, ele havia afirmado que uma vitória do capitão seria um “desastre” para o Brasil.

No novo cargo, o governador continua a seguir a cartilha bolsonarista. No início do mês, festejou uma operação da PM que deixou 11 mortos no interior do estado. “Quem vai para o cemitério, no meu governo, é o bandido”, repetiu, nesta segunda-feira.

“O PSDB como nós o conhecemos já acabou”, diz o cientista político Cláudio Couto, da FGV-SP. Ele explica que a sigla nasceu na centro-esquerda e passou por uma guinada conservadora nos governos do PT. “Doria radicalizou o discurso à direita na campanha. Agora continua a fazer isso no governo”, analisa.

O secretário-geral da legenda, Marcus Pestana, admite que os tucanos precisam de uma “reciclagem”. Apesar do diagnóstico, ele diz ser contra a mudança de nome. “Isso parece maquiagem, manipulação”, critica.

Para a maioria dos tucanos históricos, Doria é um arrivista que não inspira confiança. Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Alckmin estão no grupo que preferia vê-lo à distância. No entanto, ninguém deve se atrever a enfrentá-lo. Ao conquistar o governo paulista, o dublê de empresário e apresentador de TV conquistou o direito de liderar o partido. Ou o que sobrar dele.

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