Ausência de políticas públicas, alto custo da inovação, burocracia e baixa qualificação profissional são empecilhos
Nas últimas quatro décadas, o Brasil cresceu abaixo da média mundial e, também, dos países em estágio similar de desenvolvimento. Nesse período, o setor de transformação perdeu importância. Houve um significativo declínio do valor da produção industrial no Produto Interno Bruto: era 24,5% em 1980 e caiu para 11,3% em 2018.
Mudou a estrutura produtiva. Segmentos industriais dependentes do uso intensivo de tecnologia e conhecimento perderam relevância como fonte de emprego e de criação de valor adicionado. Isso ocorreu, e prossegue, em meio a uma longa estagnação, com perdas no nível de renda por habitante. Em contrapartida, aumentou o peso econômico dos serviços, principalmente os informais e de baixa produtividade.
Quando a produção de bens manufaturados perde proeminência na criação de valor e de empregos, declina a potência do motor econômico do país. Limitam-se as chances de crescimento sustentável no longo prazo. A alternativa está na reestruturação da base industrial, assentada no conhecimento e na inovação, para possibilitar manufaturas de valor adicionado crescente e gerar empregos de maior sofisticação intelectual, com melhor remuneração. Essa equação está pendente de resolução.
Investimentos em inovação, pesquisa e desenvolvimento estão estancados (US$ 45 bilhões anuais). É ínfimo em relação à América Latina: pesquisa do grupo Cisco em 118 países mostra o Brasil em 10º lugar em desenvolvimento digital na região.
Mudar isso exige mobilização equivalente a um esforço de guerra para transformar o ambiente econômico, estimular o empreendedorismo, a inovação e uma real integração entre o setor privado, centros de pesquisas autônomos e universidades públicas. Benefícios advindos de uma transição estimulada para a era digital são muitos — desde a redução dos 700 mil acidentes de trabalho por ano no setor privado, ao enxugamento da burocracia necessária para os 100 milhões de processos judiciais em andamento.
Do lado das empresas é necessária a cooperação setorial e a disseminação das boas experiências na criação de ecossistemas de inovação e de apoio às startups. A rede hospitalar Einstein, por exemplo, mudou a partir da integração dos profissionais de diferentes áreas focada em processos inovadores. A cooperação é a base do êxito de empreendimentos como o nanossatélite nacional, da Visiona, e do sequenciamento genético para auxiliar nos tratamentos de autismo, da Tismoo.
Empresários têm razão nas queixas sobre a ausência de política pública coerente, o alto custo da inovação por escassez de financiamentos, o excesso de burocracia e a baixa qualificação profissional, não a tradicional, mas a digital. São críticas que se renovam a cada pesquisa como a recém-conduzida pela CNI/ Sebrae. Deveriam motivar governo e Congresso à ação urgente.
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