É preciso chegar a um consenso sobre a retomada de investimentos, além da reforma da Previdência
A indústria está em recessão, alerta o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), que reúne meia centena das maiores empresas do país. A queda na produção é constante desde meados do ano passado. Em março, o declínio já atingia dois terços do parque industrial brasileiro, com tendência a se espraiar por toda a base produtiva dos 15 estados mais industrializados.
Nos 26 estados e no Distrito Federal, confirma o IBGE, a retração no produto industrial, que havia sido de 0,3% no último trimestre do ano passado, avançou para 0,7% nos primeiros três meses deste ano.
Se excluídos os ramos de construção civil e de extrativismo — este fortemente influenciado pela tragédia da Vale em Brumadinho (MG) — , tem-se um retrato mais preciso da indústria de transformação: a queda foi de 1,5% entre outubro e dezembro do ano passado e passou a 1,7% de janeiro a março deste ano. Em São Paulo, o retrocesso completou nove meses seguidos, com 72% das fábricas afetadas neste ano.
O país está estagnado — para alguns economistas, à beira de uma depressão. De 1981 até 2018, cresceu muito abaixo da média dos países em desenvolvimento.
Há quase oito anos o Produto Interno Bruto brasileiro patina na faixa de 0,5% ao ano. Por 84 meses, até dezembro, a renda per capita evoluiu 0,3% anuais enquanto a população aumentava 0,8% ao ano. Significa empobrecimento numa economia com 13,2 milhões de desempregados. O Fundo Monetário Internacional lembra que, ao final da década, o Brasil terá registrado crescimento de 0,9%, inferior ao de 90% dos países.
O panorama não é animador. Não há estímulo ao investimento em escala suficiente para uma recuperação, por exemplo, acima de 2%. E sem o motor industrial, obviamente a retomada permanece distante.
A indústria tem papel essencial na produção de inovações tecnológicas, ajuda na geração de superávit na balança comercial e é vital no aumento da produtividade da economia. Reformas do Estado são vitais, sobretudo num quadro de atrofia no qual um servidor aposentado custa à União quase 15 vezes mais do que um aposentado da iniciativa privada.
É necessário, porém, que o foco governamental nas necessárias reformas para melhoria do desempenho futuro do setor público não eclipse o desafio da superação do cenário atual, de estagnação ou de pré-depressão. O governo precisa, com urgência, chegar a um consenso com o setor privado sobre os meios para se estimular a retomada dos investimentos no curto prazo. Além da reforma da Previdência.
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