Disputa municipal teve envolvimento de caciques; apesar da derrota, Bolsonaro alavancou candidato
Catia Seabra / Folha de S. Paulo
IGUABA GRANDE (RJ) - O bolsonarismo teve neste domingo (2) seu primeiro teste nas urnas após a eleição de Jair Bolsonaro à Presidência da República. Foi derrotado, embora não tenha demonstrado fraqueza.
O laboratório foi a cidade de Iguaba Grande, na Região dos Lagos do Rio, em uma disputa para substituir a prefeita afastada e que ganhou contornos nacionais, com envolvimento não só do próprio PSL como também da família Bolsonaro e do vice-presidente, general Hamilton Mourão (PRTB).
O suboficial Washington Tahim (PSL), candidato bolsonarista, foi derrotado pelo adversário do Cidadania —antigo PPS (Partido Popular Socialista)—, Vantoil Martins, na eleição suplementar pela Prefeitura de Iguaba Grande, município de 28 mil habitantes.
Essa foi a primeira corrida eleitoral da qual o PSL participou após eleição de Bolsonaro à Presidência da República.
Apesar da derrota, o entorno de Bolsonaro conseguiu alavancar Tahim, que era tido como um candidato inexpressivo na cidade, para a segunda colocação, com 22% dos votos, contra 36% do vencedor.
O futuro prefeito, Vantoil, obteve 5.118 votos e, apesar do histórico do partido, apresenta-se como um candidato de centro-direita, e não de esquerda. Já Tahim teve 3.186 —na disputa de 2016 pela Câmara de Vereadores, havia conseguido somente 141 votos.
Sobre a atuação do adversário, Vantoil diz ter visto uma campanha bastante profissionalizada, atípica em uma cidade do interior. "Muito forte nas redes sociais e, na nossa concepção, abusaram das fake news", comenta Vantoil, repetindo uma avaliação corriqueira sobre a disputa presidencial do ano passado.
Apoiado pelo família Bolsonaro e pelo vice-presidente, general Hamilton Mourão, o suboficial Washington Tahim teve a candidatura reforçada pela bancada do PSL.
Presidente do PSL no estado, o senador Flávio Bolsonaro telefonou para os deputados do partido pedindo que reforçassem a candidatura do militar. Na véspera da eleição, seis parlamentares do PSL foram a Iguaba Grande para demonstrar apoio a Tahim.
Também foi fixado um banner no acesso à cidade com a imagem do presidente da República, Jair Bolsonaro.
Assim como Flávio Bolsonaro, Mourão gravou uma mensagem em apoio Tahim, dizendo que o suboficial se encaixa no perfil de moralidade e honestidade do governo federal.
Terceiro colocado na disputa eleitoral, e antes um dos favoritos para a disputa, o candidato do PR, Rodolfinho Pedrosa (20%), afirma que houve uma tentativa de nacionalização do debate.
Rodolfinho —que teve endosso de Tahim na eleição passada— conta que, ao romper a parceria, o militar contou-lhe que sua candidatura atendia a uma determinação do comando do PSL. "Foi uma espécie de um projeto piloto do PSL", diz Rodolfinho.
Em 41 dias, desde a definição da data da votação, Tahim saltou de quinto para segundo, indicam pesquisas internas.
Embora sua candidatura seja abraçada pelo PSL, Tahim não é formalmente filiado ao partido. Na Marinha há 33 anos, o candidato não pode integrar um partido enquanto estiver na ativa. Para a disputa, o suboficial pediu licença e teria que se afastar definitivamente em caso de eleição.
Ele conhece o presidente há mais de 20 anos, já que Bolsonaro frequentava a comemoração do aniversário da Marinha, realizada anualmente em São Pedro da Aldeia.
Nas redes sociais, Tahim costuma expressar apoio ao golpe militar de 64. Em março, postou um cartaz em homenagem ao regime.
O militar também sustenta a ideia de que o Brasil deveria entrar em guerra. Só assim, valorizaria o papel das Forças Armadas. "Os militares sabem verdadeiramente o tamanho da responsabilidade de defender um povo, mesmo quando não são reconhecidos por isso. Sempre digo que o Brasil precisa de uma guerra, talvez assim sejamos motivo de orgulho para o povo", publicou.
Outros dois candidatos concorreram à prefeitura --Miqueias Gomes (MDB), que teve 19%, e Jeffinho (PTC), 4%.
Dos 22.771 eleitores da cidade, 15.321 foram às urnas. O futuro prefeito toma posse no próximo dia 27.
A eleição foi convocada devido ao afastamento da prefeita eleita —Ana Grasiella Magalhães foi afastada definitivamente no dia 19 de março.
Nora do ex-prefeito Oscar Magalhães, Grasiella era considerada a terceira da família a comandar a prefeitura, já que seu sogro e antecessor ocupou a cadeira por dois mandatos.
Para a Justiça Eleitoral, sua eleição era o terceiro mandato consecutivo do mesmo grupo familiar, o que é ilegal.
Ano passado, ela foi afastada, mas reassumiu o posto amparada em liminares concedidas pelo ministro Ricardo Lewandowski e, depois, revistas por ele mesmo. Em março, o STF (Supremo Tribunal Federal) reiterou o indeferimento da candidatura da prefeita, determinando a convocação de nova eleição.
Também acusada de recebimento de propina para beneficiar uma empresa de iluminação, Grasiella foi substituída, temporariamente, pela presidente da Câmara de Vereadores, Balliester Werneck.
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