quarta-feira, 5 de junho de 2019

Ricardo Noblat: A ignorância abissal do capitão

- Blog do Noblat / Veja

Tiro para todos os lados
Com poucas palavras, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) produziu um retrato devastador do presidente Jair Bolsonaro e do seu governo. Chamou-o de “inexperiente”, sem “aptidão para governar” e com um enorme “desconhecimento da coisa pública”. E confessou perplexo: “Isso é uma coisa inédita, eu nunca vi isso”.

O que disse Jereissati em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo recepcionou as mais recentes iniciativas de Bolsonaro que chocaram muita gente dentro e fora do governo. Somente ontem, Bolsonaro levou pessoalmente ao Congresso um projeto que afrouxa as regras contra a violência no trânsito. O projeto foi mal recebido.

E contra a opinião do ministro Paulo Guedes, da Economia, autorizou o ministro Onyx Lorenzoni, da Casa Civil, a remeter à Câmara dos Deputados o programa de socorro a Estados e municípios quebrados ou em vias de quebrar. Guedes considera o programa equivocado, embora proposto por um dos seus auxiliares.

“Depois reclamam quando eu digo que o presidente não tem noção de prioridade e do que é importante para o país”, queixou-se o deputado Marcelo Ramos (PL-AM), presidente da Comissão Especial da reforma da Previdência. “Numa semana decisiva para a reforma, ele traz um projeto que premia os maus motoristas”.

Guedes ficou furioso com a antecipação do programa de socorro a Estados e municípios, mas não passou recibo. A bancada de pouco mais de 210 deputados de vários partidos que atua em favor de regras mais duras contra a violência no trânsito já anunciou que torpedeará todas as medidas que sugeridas em sentido contrário.

Para Bolsonaro, pouco se lhe dá. Ele joga para a plateia que o elegeu, ou para fatias dela. E que acreditou em suas promessas por mais que fossem absurdas ou irrealizáveis. Se as cumprir, dirá que é um homem de palavra. Se não, jogará a culpa em deputados e senadores. Simples assim.

Valeu cada tostão pago a Ratinho

Bom negócio
De volta a Brasília no início da madrugada de hoje, o presidente Jair Bolsonaro, seu filho Flávio e o general Floriano Peixoto, Ministro-Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, concluíram que valeu a pena o preço pago a Ratinho, apresentador de programa no SBT, para que ele fizesse propaganda da reforma da Previdência.

Ratinho embolsou R$ 268.500 para falar bem da reforma no seu programa e para entrevistar Bolsonaro como fez ontem à noite. O quadro chamado “Dois dedos de prosa com Ratinho” durou pouco mais de uma hora. Foi uma entrevista chapa branca, como era o seu objetivo. Ratinho levantava a bola para que Bolsonaro cortasse.

Quando achava que Bolsonaro respondia de maneira confusa ao que lhe fora perguntado, Ratinho saia em socorro dele. Aconselhou-o a sorrir mais quando aparecesse na televisão. A certa altura, olhando para a câmera, falou diretamente ao seu público e disse: “Vocês acham que se a reforma da Previdência fosse ruim eu a defenderia?”

A reforma esteve no centro da entrevista, mas Ratinho provocou Bolsonaro a falar sobre outros temas que ele muito aprecia. Por exemplo: a facada que levou em Juiz de Fora. Ou o comunismo que ameaçaria o Brasil. “Eu sou apaixonado pelo general Floriano”, disse Ratinho. E, sentado no auditório, o general agradeceu, sorridente.

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