- Folha de S. Paulo
Taxas de negócios no atacadão de dinheiro caem; BC espera reforma e inflação menor
A economia ficou ainda mais lerda e tem sintomas de recaída. O Banco Central tem dito que ainda não é motivo suficiente para a redução da taxa básica de juros. Afinal, mesmo com o PIB (Produto Interno Bruto) quase morto de frio, as expectativas de inflação ainda não caíram, diz o pessoal da autoridade monetária.
Hum. Na prática, parece que caíram.
As taxas de juros no mercado estão caindo, parece mais evidente de uma semana para cá, por aí. Trata-se aqui das taxas dos negócios no atacadão de dinheiro, de transações entre bancos e do custo de financiamento da dívida do governo, não de crédito bancário.
Uma semana de juros olhando para baixo é pouco tempo para dizer grande coisa. Pode ser um soluço. Acontece. Mas, pelo jeitão da coisa, dados outros indicadores do mercado financeiro, não parece.
Por algum motivo sempre difícil de cravar, os negociantes de dinheiro grosso e seus economistas estão trabalhando com taxas de juros menores, em contratos de um ano ou mais longos. Seja como for, não devem acreditar que inflação seja um problema, mesmo que seus colegas dos departamentos de pesquisa econômica não tenham (ainda) derrubado suas projeções de inflação, na média. Pelo jeito, ficaram traumatizados com as altas de preços do feijão, do tomate e da batata, no início do ano. Não carecia.
Isso não quer dizer, claro, que o Banco Central deva reagir de pronto e chancelar essa que parece ser a opinião prática do mercado sobre preços e riscos: a queda recente das taxas de juros de seus negócios.
Além do mais, francamente, não faria grande diferença, se alguma, o BC cortar a Selic agora em sua próxima reunião, 19 de junho, ou na seguinte, 31 de julho, mesmo porque a operação será a conta-gotas, uma lasca que levaria a taxa básica de 6,5% ao ano para 6%, no primeiro momento, sendo muito otimista.
Mais importante, além de a queda das taxas no mercado ser recente, o BC ainda não terá remota ideia do que será feito da reforma da Previdência lá pelo dia 19 de junho. Está todo o mundo farto dessa história, mas mesmo assim é preciso ressaltar enfaticamente que, sem reforma, irá tudo para o vinagre: juros, dólar, o resto mínimo de atividade econômica e sabe-se lá mais o quê, o céu que nos proteja. Logo, parece muito improvável que o BC corte as unhas grandes de Selic neste mês.
Pode ser que, no fim de julho, a reforma esteja bem encaminhada ou, sendo otimista, até votada em primeiro turno na Câmara.
É bem provável que a perspectiva de inflação seja então de baixa; que juros e crescimento decresçam pelo mundo (inclusive nos EUA, convém prestar atenção). O risco Brasil baixa, e o dólar retornou da viagem recente às alturas, o que, no entanto, mal bulira com as taxas de juros, note-se.
Menos importante para o Banco Central, é provável que então tenhamos mais evidências de catatonia hipotérmica da atividade econômica. Se as taxas na praça financeira continuarem caídas ou caindo e a Selic ficar na mesma, o BC terá de contrariar o mercado no grito, o que vai ser muito estranho, para recorrer a uma palavra cortês.
Baixar os juros vai fazer diferença na vida real, no Pibinho, ao menos? Talvez um tico, no ano que vem, se o governo for adestrado e parar de fazer bagunça, se não houver problemas na finança e na economia do mundo lá fora etc.
Melhor do que nada e, de quebra, contribui para diminuir o custo da dívida pública. É um troco, mas estamos na miséria. Não convém desprezar.
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