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Não se abandona um soldado ferido no campo de batalha
Não se sabe quem bateu o bombo. É possível que tenha sido o general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, lotado no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da presidência da República, e apontado por seus colegas de farda como a voz mais influente da ala militar do governo do capitão Jair Bolsonaro.
Mas uma vez que o som do bombo ecoou, a tropa obedeceu sem vacilar à ordem de marchar unida em defesa do ministro Sérgio Moro, da Justiça e da Segurança Pública, atingido em sua reputação pelo vazamento das mensagens trocadas com o procurador Deltan Dallagnol quando os dois comandavam a Operação Lava Jato.
O que primeiro se pronunciou foi o general e vice-presidente Hamilton Mourão Filho. Hierarquia é hierarquia, afinal, e ninguém mais a respeita que os militares. Mourão disse que não viu “nada demais” no que foi revelado pelo site The Intercept Brasil. Repetiu a mesma cantilena tocada por Moro desde o último domingo.
A Mourão seguiu-se o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, que raramente aborda em público assuntos estranhos à sua pasta. O general afirmou que Moro continua a merecer a confiança de todos. Não se referiu apenas à sua própria confiança, mas também a das Forças Armadas pelas quais fala.
O general Augusto Heleno, ministro do GSI, engrossou o coro com a declaração mais política entre todas que foram feitas: “O desespero dos que dominaram o cenário econômico e político do Brasil nas últimas décadas levou seus integrantes a usar meios ilícitos para tentar provar que a Justiça os puniu injustamente”.
Ou o general já sabe onde irá bater a investigação da Polícia Federal sobre os responsáveis pelo vazamento do material publicado no The Intercept Brasil, ou cedeu ao viés ideológico que marca o discurso do seu chefe imediato. Augusto Heleno chamou para brigar o PT e seus aliados que não deixam Moro em paz e que jamais deixarão.
Embora presidente, Bolsonaro não pode ser excluído da ala militar do seu governo. No início da noite, seu porta-voz havia dito que ele nada diria por ora a respeito das vicissitudes de Moro e Dallagnol. Mas Bolsonaro acabou dizendo e bem ao seu estilo econômico de falar: “Nós confiamos irrestritamente no ministro Moro”. Táokey?
Está nos dicionários: irrestritamente quer dizer de maneira irrestrita; sem restrição nem limitações. Da Constituição se diz que deve ser “irrestritamente respeitada”, apesar de nem sempre ser. Ela manda, por exemplo, que juiz se comporte com total isenção no ato de julgar. Nada de favorecer parte alguma. Mas… Sabe como é…
Enquanto esteve à frente da Lava Jato, Moro recebeu todas as comendas que o Exército, a Marinha e a Força Aérea poderiam lhe conceder àquela altura. Era preciso pôr um freio à corrupção que crescera exponencialmente durante os governos do PT. E se o PT fosse derrotado nas eleições de 2018, tanto melhor. Foi.
É da ética militar que não se abandona um soldado ferido no meio de uma batalha. Moro foi ferido. A operação de socorro está em curso
Civis, por ora, observam tudo calados
À espera do que virá
Salvo os políticos de oposição, os demais preferiram observar em silêncio as primeiras horas do Caso Moro-Dellagnol detonado pelo site The Intercept Brasil. Prudência e caldo de galinha sempre fazem bem – ou não é?
No escurinho dos gabinetes ou dos apartamentos funcionais de Brasília, em sussurros para não serem ouvidos por estranhos, eles trocaram impressões sobre o que poderá acontecer a Moro, mas concluíram: melhor esperar.
Esperar o quê? As próximas revelações prometidas pelo site. Se elas não forem mais comprometedoras para Moro como as que já se conhece, ele deverá ficar ministro mesmo que baleado. Mas se forem mais comprometedoras, aí…
Mesmo assim ele poderá ficar. Bolsonaro pouco terá a perder se o conservar ao seu lado ou à distância segura. Se antes, com todo o gás, Moro rendeu-se a todas as suas vontades, quanto mais fraco. De resto, sua grife não se desvalorizará rapidamente.
O que se dá como certo no Congresso é que, ali, haverá a partir de hoje grande barulho e aumentarão as dificuldades para que se vote qualquer coisa importante. Mau sinal para quem cobra pressa na aprovação da reforma da Previdência.
O ministro Paulo Guedes, da Economia, identificou o perigo quando disse que sempre que uma decisão importante para o país está prestes a ser tomada, o governo é surpreendido “por uma avalanche de eventos” que acabam por paralisá-lo. Deu exemplos:
“Gravaram o presidente Michel Temer. Não vai ter reforma da Previdência. Pronto, acabou. Toda hora tem uma [divulgação]. Uma é o Michel Temer, outra é o filho do Bolsonaro, outra é não sei o que lá, hoje é o do Moro. Não foi por falta de tentativa, toda hora tem uma [bomba].”
Tempos estranhos, esses, onde um político na folha da Câmara dos Deputados há mais de 28 anos se elege presidente da República como se político jamais tivesse sido, e um juiz que condenou seu principal adversário aceita de bom grado o convite para ser seu ministro.
Brilham os olhos do Zero Um
A esperança do garoto
O enfraquecimento temporário ou não do ministro Sérgio Moro, da Justiça e da Segurança Pública, acendeu a esperança do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) de que seus rolos junto com o ex-motorista Fabrício Queiroz acabem não dando em nada.
Flávio limitou-se a postar em sua página no Twitter a nota de defesa de Moro. Seus irmãos Carlos (Zero Dois) e Eduardo (Zero Três) foram enfáticos ao defender Moro. Quem imaginou que Moro um dia precisaria da ajuda dos garotos do capitão?
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