- Folha de S. Paulo
Conversas expõem a 'operação mãos não tão limpas' do ex-xerife da Lava Jato
Com uma sentença de 238 páginas divulgada em 12 de julho de 2017, Sergio Moro plantou os alicerces da rigorosa decisão que mandaria Luiz Inácio Lula da Silva para a cadeia e o retiraria das eleições presidenciais do ano seguinte.
Quase dois anos depois, e apesar de colecionar ações controversas, o hoje ministro da Justiça de Jair Bolsonaro ainda guardava razoável aura de magistrado imparcial, implacável contra o malfeito e alheio às velhacarias palacianas.
As conversas secretas reveladas pelo site The Intercept Brasil neste domingo (9), porém, não dão margem a dúvida. O juiz tomou lado.
Lula, ao que tudo indica, não foi alvo de um julgamento necessariamente isento, mas enfrentou uma dobradinha intramuros entre acusadores e o magistrado —o mesmo que, dias após as eleições, pulou oficialmente no barco do maior beneficiário político de suas decisões.
O que diriam os antipetistas radicais se as conversas reveladas mostrassem Moro orientando, passando dicas ou antecipando decisões aos advogados de Lula?
De acordo com a sentença proferida pelo então xerife da Lava Jato, restou provado que o ex-presidente receberia da OAS um tríplex no Guarujá (SP) tendo que pagar apenas o preço de uma unidade convencional.
Há delações, documentos, mensagens e outros elementos nesse sentido. As conversas secretas que agora vêm a público, porém —e que se alinham a outros movimentos de Moro e do Ministério Público—, minam a credibilidade desse trabalho.
Tudo indica que o material que chegou ao Intercept foi colhido de forma criminosa, o que deve ser apurado e punido. Mas não há dúvida que tem relevância e interesse público suficiente para ser publicado.
Moro foi ator decisivo nos recentes acontecimentos da República. É cotado para o Supremo Tribunal Federal ou para a Presidência e é tratado como super-herói em atos de rua. É muito salutar que seja despido de capas que não lhe servem. A do juiz imparcial acaba de cair.
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