- Folha de S. Paulo
Há sinais de mexida no Ambiente, Assuntos Fundiários, Cultura e até em Moro
Em dois dias, Jair Bolsonaro anunciou a criação de um Conselho da Amazônia e ressuscitou a ideia do Ministério da Segurança Pública. Pode ser aleatório ou coincidência de reações a problemas políticos, econômicos e administrativos no Ambiente, nos Assuntos Fundiários e até no universo Sergio Moro. Mas tem assunto aí.
Por coincidência ou precisão, pode ser uma tentativa de fazer funilaria e pintura nos carros mais desgovernados da Esplanada dos Ministérios, na Educação inclusive.
Em parte, tenta-se apagar incêndios na área ambiental, vexame urbi et orbi, que enerva empresários aliados do governo. Também se procura limitar a atuação da extrema direita ruralista em assuntos de terra e mineração, o que irrita militares e incomoda vários ministros, tal como a discreta Tereza Cristina (Agricultura).
No caso da Segurança Pública, não se sabe se Bolsonaro pensa mesmo em recriar o ministério. Pode ter falado no assunto por falar, em reunião com secretários estaduais de Segurança, nesta quarta-feira (22).
Os amigos policiais do presidente e parte relevante da corporação policial querem a volta do ministério. Gente mais bolsonarista e parte da família também acha conveniente recriar a pasta, a fim de diminuir Moro, em termos políticos e talvez eleitorais. Imaginam ainda tomar mais conta dos poderes de polícia e querem ações mais espetaculares na segurança.
De menos incerto, há o Conselho da Amazônia. Bolsonaro indicou o vice-presidente Hamilton Mourão para presidi-lo. Não se sabe ainda de seu estatuto formal, mas o plano é que Mourão faça a curadoria, digamos, dos problemas de desastre ambiental iminente, de ações policiais, de regulamentação fundiária e planejamento econômico para a região.
Um objetivo político evidente é controlar as ações de Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, e de Nabhan Garcia, secretário de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, detestado por generais do governo e da caserna.
Nabhan quer arrumar título de terra para seus companheiros, líder sindical que é, da União Democrática Ruralista. Por isso, entre outras audácias, fritou e derrubou general e coronéis do Incra, que caíram atirando nele.
Um conselho pode ser qualquer coisa, afora o caso dos citados na Constituição. Em geral, é apenas órgão consultivo da Presidência, mas alguns têm poderes relevantes de orientar a política pública.
No mínimo, no que diz respeito à Amazônia, Salles e Nabhan vão estar sob a vigilância de colegas de ministério e de Mourão. Mas não se sabe o programa do vice-presidente, que, no entanto, não vai perder a oportunidade de fazer um trabalho notável ou notório, ainda mais depois de ter sido escanteado pela paranoia da familiocracia.
Por motivos estranhos à sua vontade e ao seu gosto, Bolsonaro tirou da Cultura o sujeito que saiu do armário fantasiado de nazista. Para substituí-lo, apelou a um nome panos quentes, tampão, Regina Duarte. A atriz teria papel amortecedor entre o mundo da cultura e o governo, para desgosto do submundo das trevas militantes que querem dominar o setor no bolsonarismo.
Trata-se de muitas mexidas em áreas de predileção da familiocracia, das milícias digitais e da seita do orvalho de cavalo. Até por isso, pelo sururu caseiro, Bolsonaro tem se irritado com sugestões leves de que o Ministério da Educação é bomba que pode explodir de vez na cara do governo (vide o Enem). Mas há mudança sendo cozida no caldeirão.
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