Mecanismos de defesa do regime têm de ser acionados, para evitar que insegurança paralise o país
O bombardeio do prédio do Supremo Tribunal simulado com fogos de artifício na noite de sábado por um grupo de radicais de extrema direita, apoiadores do presidente Bolsonaro, foi acompanhado por xingamentos de ministros e pelo conselho de que entendessem o “recado”. Ele não poderia ser mais claro, partindo dos mesmos que em maio, também à noite, desfilaram em formação pela frente do STF com tochas, numa evocação do racismo da americana Ku Klux Klan e de grupos nazistas na Alemanha de Hitler.
O acúmulo de atos de agressão à democracia, muitos organizados em Brasília, com a nada dissimulada aquiescência do presidente, mereceu enfim uma devida reação de autoridades, necessária para afastar qualquer ideia de que atos de extremistas de direita na capital federal poderiam contar com alguma permissividade.
É o que aconteceu em Brasília, a partir do próprio governador, Ibaneis Rocha, ao exonerar o subcomandante da PM, coronel Sérgio Luiz Ferreira de Souza, que nada fez para impedir o lançamento de fogos contra o STF.
Ibaneis, que se mostrava próximo a Bolsonaro, fez o certo ao cumprir a Constituição, e dessa forma deu um exemplo aos demais governadores, para que não permitam que as PMs, permeáveis ao bolsonarismo, deixem de reprimir ilegalidades de seguidores do presidente. Este será um crime militar grave.
A forte reação de ministros da Corte, junto com seu presidente, Dias Toffoli — que pediu abertura de inquérito ao procurador-geral da República, Augusto Aaras, e foi atendido —, incluiu mandados de prisão contra militantes, entre eles Sara Geromini, que atende pelo codinome de Sara Winter, líder deste pequeno grupo com tendências piromaníacas, chamado de “Os 300 do Brasil”, embora congregue um décimo disso. Sara, que estaria tentando construir uma imagem para se lançar na política, foi presa com base no inquérito das manifestações antidemocráticas, presidido por Moraes.
Outro integrante desses grupos, Renan Senna, detido pela Polícia Civil, foi liberado. Já havia sido flagrado agredindo enfermeiras que faziam manifestação pacífica na Esplanada, e é dele a voz que se pode ouvir ameaçando ministros no vídeo do bombardeio de fogos. Na tarde de ontem foi filmado nas proximidades do STF.
No domingo de Brasília, quem apareceu na companhia de alguns extremistas foi o ministro da Educação, Abraham Weintraub, que, em um grupo, reafirmou que gostaria de prender os ministros da Corte. Estava em seu ambiente. Mas foi multado em R$ 2 mil por não usar máscara de proteção, penalização também de caráter pedagógico.
A gravidade do ataque levou a que dois ministros de Bolsonaro emitissem nota de repúdio — Jorge Oliveira, da Secretaria-Geral da Presidência, e André Mendonça, da Justiça. Mas o presidente guardou silêncio, o que ajuda a manter o clima de insegurança no país, prejudicial à retomada da normalidade.
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