Ex-presidente disse que país está em terreno escorregadio, que pode dar em autoritarismo
Por Carolina Freitas | Valor Econômico
SÃO PAULO - O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB) definiu ontem o Brasil como um país em “curto-circuito". Para Fernando Henrique, o país está em "terreno escorregadio" e há risco de se descambar para o autoritarismo. Apesar de não considerar que o presidente Jair Bolsonaro ou as Forças Armadas tenham projetos autoritários, FHC disse que isso não garante a democracia.
"Não se pode dar de barato que a democracia vai prevalecer. Depende. Estamos vivendo um momento preocupante", afirmou Fernando Henrique no Brazil Forum UK, evento on-line promovido por estudantes brasileiros no Reino Unido e por O Estado de S.Paulo".
"Nem o presidente tem um projeto autoritário mas vai seguindo de maneira atabalhoada e pode chegar lá", disse Fernando Henrique. “Estamos em curto-circuito."
O ex-presidente afirmou que em momentos de dificuldade "as instituições fundamentais são as Forças Armadas". "Não creio que as Forças Armadas tenham, como tinham em 1964, um projeto de segurar a esquerda. Creio que os militares estão ao lado da Constituição, mas o terreno é escorregadio. Pode dar em autoritarismo."
Segundo FHC, o fato de Bolsonaro ter colocado militares em postos estratégicos mostra fraqueza. "Nomear militar é sinal de que não tem apoio. Não tem apoio político nem das bases econômicas."
Fernando Henrique apontou como "problema grave" a falta de liderança e de rumo do governo. "A sensação que temos é que estamos perdidos, o presidente também está perdido. Quando o Executivo aparece, é com assuntos menores e de maneira muito rude."
Para o ex-presidente, a pandemia de coronavírus fez com que o governo Bolsonaro perdesse o que era o seu norte - reformas econômicas - pois a crise exige gastos. "Esse governo se elegeu com a ideia de ter um equilíbrio fiscal. A visão do ministro [da Economia, Paulo Guedes] é ajustada a um momento anterior à pandemia. O projeto de Bolsonaro deu de encontro com a realidade. Vai ter que inventar um projeto", afirmou.
Na opinião de Fernando Henrique, no mundo contemporâneo, o autoritarismo não se impõe por golpe, mas por meio da corrosão da democracia "por dentro". "A democracia pode perder a vitalidade. Por enquanto, temos retórica, o presidente ameaça, mas não se sente na mão dele a espada, a capacidade de fazer as instituições baixem a cabeça. Estamos nessa área cinzenta."
A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) participou do evento logo após FHC. Ela avaliou que a escalada autoritária de Bolsonaro já esta em curso. “O presidente usa a estratégia de avançar por etapas, diminuir a resistência, normalizar a violência”, afirmou.
Ainda assim, Dilma não vê o presidente capaz de dar um golpe, pois as instituições reagiriam. “Estamos vivendo um impasse. Nem há forças para derrubar Bolsonaro nem há força de Bolsonaro para dar um auto-golpe.”
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