Jorge Freire aposta que solução da crise nessa área passa pela ocupação de espaços públicos
Regiane Jesus | O Globo
RIO — O futuro das artes pode estar no caminho de volta às suas origens. Ruas, praças, parques e outros espaços ao ar livre ocupados com espetáculos de dança, música e teatro é o que o ator e produtor cultural Jorge Freire espera ver quando a pandemia da Covid-19 passar e o artista puder ir aonde o povo está. Esse cenário democratizaria o acesso às manifestações artísticas no momento em que tudo leva a crer que os ingressos para eventos estarão com os preços elevados, efeito inevitável da redução das plateias em locais fechados. Mas para que o desejo deste morador da Tijuca se torne realidade, é preciso que haja políticas públicas nesse sentido.
— A ocupação do espaço público é uma vocação natural do carioca, sobretudo nos subúrbios. Acredito que a reconstrução do setor pós-pandemia pode estar no incentivo à efervescência cultural que acontece, por exemplo, em Madureira, e que pode se fazer presente em outros bairros da Zona Norte. A Praça Varnhagem, na Tijuca, tem uma grande ebulição gastronômica, mas pode ganhar investimentos públicos em economia criativa. Por que não? O acesso à cultura é um direito constitucional que sob hipótese alguma está abaixo de outros direitos, como saúde e educação. A capacidade criativa brasileira é nosso maior patrimônio cultural, e é dever dos governantes potencializá-la.
Mais do que um direito constitucional, a cultura é uma necessidade básica para a existência humana e um motor de peso para a economia nas esferas municipal, estadual e federal, assegura Freire:— A arte é essencial não só para nos salvar do tédio imposto por essa crise causada pelo novo coronavírus, mas também para nos levar à reflexão, nos unir como povo, pavimentar uma identidade nacional que faz o retrato do que somos. Não podemos perder a dimensão que a cultura tem, em especial no Rio, onde o turismo, o carnaval, a música, são importantes vetores econômicos no campo do entretenimento. Não dá para abrir mão da cultura, achar que esse setor é algo menor.
Não é! O que seriam dos Estados Unidos se não fosse o cinema americano? Foi a sétima arte que levou para o mundo inteiro a vontade de consumir o que eles consomem.
Como cidadão, ator e produtor cultural, Freire luta para que a cultura seja colocada no patamar que lhe é de direito.
— A certeza que fica em meio a essa crise é que, mais do que nunca, as políticas culturais precisam entrar em curso. Financiamento público para a arte é uma questão urgente para que se possa recomeçar. Esse setor paga imposto, movimenta a economia, enfim, merece respeito por parte de qualquer governo. Só para se ter uma ideia em relação ao PIB (Produto Interno Bruro), a cultura arrecada mais do que a indústria têxtil brasileira. A cultura é bem público feito por particular, então a expectativa é que o estado assuma a sua função de fazer valer a Constituição — diz.
Apesar de ser um crítico das políticas públicas em relação ao setor, Freire vê com bons olhos o auxílio emergencial que vai beneficiar profissionais da cultura e pequenos espaços de espetáculos:
— Essa é uma ajuda necessária e mais do que bem-vinda, porque muita gente dessa área está enfrentando uma grave crise financeira, muitos com risco até de passar fome. Mas não posso deixar de registrar que o dinheiro é pouco diante de todas as perdas que tivemos.
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