- O Globo
O que dizer de governo que troca Mandetta e Teich pelo general?
O que mais tenho ouvido de colegas de geração é “nunca pensei”. “Nunca pensei que fosse viver tantas crises ao mesmo tempo”, “que fosse enfrentar uma pandemia como esta”, “que fosse sentir tanta insegurança” e assim por diante. A mais recente da série é: “nunca pensei que fosse ficar quatro meses trancado em casa”.
Quanto a isso, não tenho do que me queixar. Como nunca fomos de bater pernas na rua, Mary e eu suportamos bem o confinamento, com exceção da saudade dos abraços. O pior vem de fora em forma de notícias sobre a Covid-19: a inconsciência dos que acham que “máscara é coisa de viado”; a prática irresponsável dos que continuam se aglomerando, enfim, a irresponsabilidade dos “responsáveis” pelo país, que teimam em desobedecer às recomendações de ciência e do bom senso.
No domingo à noite, assisti pela GloboNews ao debate entre especialistas sobre a pandemia. Participaram a pneumologista Margareth Dalcolmo, a infectologista Maria Amélia Veras, o biólogo Atila Iamarino e os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e seu breve sucessor Nelson Teich.
Depois de ouvi-los, a pergunta era inevitável: o que dizer de um governo que troca um Mandetta e um Teich pelo general Eduardo Pazuello, que, além de não ter a menor intimidade com os assuntos da pasta, parece que não pretende deixá-la? Apesar de interino, nomeou mais de 20 militares para cargos que eram ocupados por técnicos. O fato de ser um oficial da ativa causou desconforto nas Forças Armadas, mas o que uniu a cúpula foi a severa advertência do ministro Gilmar Mendes, do STF, de que o “Exército está se associando a um genocídio”.
Há 46 anos, o sociólogo francês Roger Bastide lançou “Brasil, terra dos contrastes”, que continua atual, assim como a paródia, feita pelo compositor Tim Maia, que explicava o porquê de o Brasil não dar certo: “aqui puta goza, cafetão sente ciúme, traficante se vicia e pobre é de direita”. Se ainda vivesse, ele acrescentaria: e o negro escolhido para preservar os valores da cultura afro-brasileira fala bem da escravidão, mal de Zumbi e garante que racismo é coisa dos EUA. “A negrada daqui reclama porque é imbecil e desinformada pela esquerda.”
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