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Mendonça nada aprendeu com Tancredo Neves
André Mendonça, ministro da Justiça, não precisaria ter nascido
em Minas Gerais para aprender com o ex-presidente Tancredo Neves o que ele
dizia sobre segredos e conversas sigilosas. Uma vez, ao ouvir de um
interlocutor que tinha um segredo, mas que só lhe contaria se ele prometesse
guardar, Tancredo respondeu:
– Então não me conte. Se você, que é o
dono do segredo, não consegue guardá-lo, imagine eu.
Outra vez, já candidato a presidente da República em 1984,
cercado por jornalistas interessados em conversar com ele mesmo que fosse de
maneira reservada e sob o compromisso de nada publicarem, Tancredo concordou,
mas fez antes uma ressalva:
– E então, vamos conversar? Mas não em
sigilo. Esta é a maneira mais rápida, eficiente e segura de se propagar por
todo o país quem disse, o quê e onde.
É verdade que
pelo menos uma vez, Tancredo convocou jornalistas em Brasília e advertiu-os de
antemão: “Se o que lhes direi for publicado, nunca mais direi nada”. E contou
que o então presidente João Figueiredo faria uma reforma ministerial para
fortalecer a candidatura de Paulo Maluf à sua sucessão.
Em seguida, Tancredo disse quais
ministros seriam demitidos, e deu o nome dos seus substitutos. Não havia redes
sociais à época. No dia seguinte, sem citarem Tancredo, os jornais publicaram o
que ouviram dele. Furioso com o vazamento da informação, Figueiredo desistiu da
reforma. Era o que Tancredo queria.
Convidado a depor à Comissão Mista
de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso sobre
o monitoramento de servidores públicos federais da área de segurança que
se declararam antifascistas, o ministro Mendonça, primeiro, recusou. O assunto,
segundo ele, era extremamente sigiloso.
Pressionado, concordou em depor, e é o
que fará na próxima sexta-feira à tarde em sessão virtual promovida por seu
ministério. De suas casas, deputados e senadores poderão interrogá-lo à
vontade. É claro, sob a condição de nada falarem depois sobre o que o Mendonça
disse ou preferiu ocultar.
Façam suas apostas. Quantas horas depois começarão a circular nas redes sociais as confidências de Mendonça?
O
bloco Unidos Contra a Lava Jato saúda o povo e pede passagem
Mais fortes são os interesses que cada um representa
O que une o
senador Flávio Bolsonaro (Republicano), Lula (PT), o ex-governador Geraldo
Alckmin (PSDB), o deputado Rodrigo Maia (DEM) e o ministro Dias Toffoli,
presidente do Supremo Tribunal Federal? Resposta: seu desapreço pela Operação
Lava Jato.
No caso de
alguns deles, desapreço é pouco – oposição visceral. Por múltiplas razões,
algumas as mesmas, outras só parecidas. Cada um deles não é apenas cada um.
Flávio, por exemplo, é ele, seu pai e os irmãos. Lula, o PT e parte da
esquerda.
Maia é o Congresso
quase todo. Pelo menos a maioria dos deputados e uma grande fatia dos
senadores. Alckmin é o PSDB, cujas estrelas mais reluzentes se apagaram.
Toffoli representa uma parcela expressiva dos tribunais superiores, mas não
somente eles.
Flávio, o pai e os irmãos se elegeram pegando carona na Lava
Jato e exaltando seu principal líder, o juiz Sergio Moro. Agora diz que
integrantes da Lava Jato têm “interesse político ou financeiro”, como revela em
entrevista publicada, hoje, pelo jornal O GLOBO.
Finalmente, o senador admite que Fabrício Queiroz, seu parceiro
em negócios sujos, pagou várias de suas contas pessoais. E cobra do ministro
Paulo Guedes, da Economia, mais dinheiro para financiar programas sociais e
construir obras de infraestrutura.
Tudo,
naturalmente, em benefício do pai, em campanha escancarada e permanente para
obter um novo mandato em 2022 – mas essa é outra história. Flávio jura que a
produtividade no Ministério da Justiça aumentou depois da saída de Moro.
Sua birra com a
Lava Jato, que jamais havia manifestado, na verdade tem a ver com Moro,
unicamente com Moro, ou preferencialmente com Moro. O ex-juiz e ex-ministro
aspira suceder papai Bolsonaro, e isso é demais para o Zero UM.
Pulemos Lula e o
PT. São conhecidos seus motivos para querer demolir a Lava Jato. Os de Alckmin
e do PSDB, idem. A Lava Jato passou como uma motoniveladora sobre Alckmin, o
senador José Serra, o deputado Aécio Neves, e quem mais do PSDB?
Sobrou João
Doria, governador de São Paulo, que se dependesse de Bolsonaro teria sido
igualmente triturado para não lhe fazer sombra à direita. Com que roupa, mas
com que roupa Doria irá pedir votos para presidente? A imagem do PSDB foi para
o esgoto.
É fato que os
procuradores da Lava Jato de Curitiba tentaram investigar o presidente da
Câmara dos Deputados sem dizer que o faziam. Mas não é por isso que Maia quer
assistir ao enterro da Lava Jato. É porque a maioria dos seus liderados também
quer.
Maia sonha em
seguir presidindo a Câmara. O regimento interno não permite. Como não permite
David Alcolumbre (DEM-AP) reeleger-se presidente do Senado. Flávio defende a
reeleição de Alcolumbre porque ele tem colaborado com o governo.
Não defende a de
Maia porque “ele tem embarricado” muitos projetos do governo. Mas, como
ensinava o deputado Ulysses Guimarães, se há maioria no Congresso faz-se
qualquer coisa, “menos homem virar mulher ou mulher virar homem”.
Ou até isso, hoje, poderia ser feito. O que importa é que ainda não se deve descartar a hipótese de Maia e Alcolumbre ser reeleitos. E, para tal, eles precisam agradar os eleitores, muitos alvos da Lava Jato e que culpam Moro pelo seu infortúnio.
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