O chefe da polícia, pelo jornal de domingo, mandou avisar: Wilson Witzel caiu, mas a política do bangue-bangue continuará em vigor no Rio.
Em
entrevista ao GLOBO, o delegado Allan Turnowski exibiu um catálogo de velhas
ideias para a segurança pública. Ele deixou claro que pretende insistir nas
operações espetaculares, com direito ao uso de helicópteros e tanques de
guerra.
O
novo secretário da Polícia Civil explicou seu plano para as favelas como se
estivesse diante de um tabuleiro de War. “Se eu pudesse, não usava o blindado,
mas tanques. Pois os colocaria no alto de uma comunidade e dali tomaria de cima
para baixo”, disse.
O
delegado acrescentou que vai reforçar o ataque aéreo a territórios vistos como
inimigos. “Não usaria só um helicóptero, mas dois ou três”, empolgou-se. Faltou
dizer se ele pretende imitar o coronel Kilgore de “Apocalypse Now”. No filme, o
personagem instala alto-falantes nos helicópteros e toca Wagner enquanto os
soldados bombardeiam uma aldeia do Vietnã.
O
discurso linha-dura é típico de demagogos como Witzel, que semeiam o medo para
colher votos. O ex-juiz se elegeu com a promessa de abater criminosos com um
“tiro na cabecinha”. Em menos de dois anos, foi varrido do cargo num escândalo
de corrupção.
Se
as megaoperações acabassem com o crime, o Rio seria a cidade mais pacata do
mundo. A experiência tem demonstrado o contrário. A aposta no espetáculo
aterroriza os moradores das favelas, aumenta as mortes de inocentes e incentiva
os bandidos a se armarem cada vez mais.
Na
segunda-feira, um estudo do Instituto Sou da Paz informou que o Rio de Janeiro
tem a pior taxa de solução de homicídios do país. Apenas 11% dos casos resultam
numa denúncia aos tribunais. Um desempenho sofrível diante de vizinhos como
Espírito Santo (42%) e São Paulo (54%).
Um secretário interessado em asfixiar o crime deveria focar em inteligência, direcionando investimentos para investigação e perícia. Na estreia, Turnowski preferiu a velha fórmula do faroeste.
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