Num redemoinho, Guedes não
agrada a Bolsonaro, ao Congresso, ao mercado e à opinião pública
Com a mesma obsessão com
que defende os filhos da PF, do MP, da mídia e da verdade, o presidente agora
trata da sua própria campanha e mandou Guedes se virar e arranjar recursos para
o “seu” Bolsa Família, com o
nome de Renda Cidadã, maior
valor e mais abrangência, sem mexer no teto de gastos nem criar novo imposto.
Dinheiro, porém, não cai do céu nem dá em árvore – mesmo que desse, as árvores
estão virando carvão.
De onde tirar o dinheiro?
“Não tem de onde tirar”, responde com clareza o vice Hamilton Mourão. Não
tem mesmo e tudo o que os técnicos do Ministério da Economia conseguem produzir
são soluções... técnicas. Mas o mundo é político, o ano é de campanha e o
presidente está no modo populista-eleitoral e “não vai tirar do pobre para dar
a paupérrimo”.
Guedes está num mato sem
cachorro. A primeira ideia foi garfar do eleitor aposentado ou pensionista para
dar para o eleitor do Bolsa Família. Bolsonaro matou a tiros. A segunda foi
impopular e de legalidade duvidosa: sacar dos precatórios, decididos pela
Justiça, e do Fundeb, prorrogado a duras penas e sob a resistência do Planalto.
Aí quem atirou foi o próprio Guedes. Mas foi também um tiro no pé.
Perdendo aval de Bolsonaro
e atraindo desconfiança no mercado e na opinião pública, o ministro-âncora do
governo está como um náufrago de apoios. Perdeu o chão quando a pandemia
contaminou e derrotou a prioridade fiscal – sua especialidade –, exigindo
gastos. Frágil, atraiu a cobiça de ministros, ressuscitou a alma estatizante
dos militares, encolheu. Depois de derrotas internas, críticas externas e
sucessivas evidências de não estar agradando, a gota d’água foi o tal “cartão
vermelho”. Não foi coisa de Rogério Marinho, de Tarcísio de Freitas, e sim do
presidente.
Foi aí que Paulo Guedes aprendeu que
superministro não existe e convocou uma imersão, ou retiro espiritual, para
ensinar o básico do poder à sua equipe: quem foi eleito, tem voto, entende de
política e manda é o presidente. O que ele quer e diz é uma ordem. Ponto. E
Guedes ressurgiu das cinzas decidido a recuperar prestígio e liderança na onda
do Centrão. Durou pouco.
No primeiro grande lance
desse “recomeço”, Guedes deu com os burros n’água. Na segunda-feira, ele
participou da reunião e do anúncio, com o presidente, ministros, assessores e
líderes do governo (ou seja, do Centrão) da proposta de tirar dos precatórios e
do Fundeb para dar para os paupérrimos do Bolsa
Família. Na quarta, o mesmo Guedes foi a público negar tudo e
descartar o uso de precatórios. Tirou o corpo fora. O dito pelo não dito.
Assim como a
procuradora Lindôra Araújo denunciou
e “desdenunciou” o deputado Arthur Lira, nome do Planalto à presidência da
Câmara em 2021, Guedes assumiu e depois renegou o uso dos precatórios, que
havia afetado câmbio e Bolsa e agitado o mundo jurídico – afinal, esse dinheiro
não é do governo, é dos credores do governo. A ideia é (era) dar calote?
E, assim como Bolsonaro
culpa os governadores pelos seus erros absurdos na pandemia, Guedes tenta
arranjar um culpado para a falta de privatizações, reformas, recursos, ações e
soluções: Rodrigo Maia, que
chamou o ministro de “desequilibrado”. Maia sai da presidência da Câmara em
fevereiro. E Guedes, até quando fica no Ministério da Economia? Abraço de
afogados...
* Comentarista da Rádio
Eldorado, da Rádio Jornal e do Telejornal Globonews em Pauta
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