Sem ser provocado, Biden
de moto próprio afirmou que faria uma proposta para o Brasil na área ambiental,
que mais soa a um ultimato. Ou Bolsonaro aceita US$ 20 bilhões de ajuda para
preservar a Floresta Amazônica, ou arcará com consequências econômicas.
Foi um aceno de Biden à
ala mais radical do Partido Democrata, que precisa ser compensada de alguma
maneira por todos os gestos centristas já feitos pelo candidato. Mas sinalizou
para um isolamento maior do governo brasileiro no futuro. Será o fim das
relações carnais entre Brasil e Estados Unidos, como o próprio Bolsonaro deixou
claro ao refutar no dia seguinte a proposta de “plata o plomo” feita pelo
democrata. Afora Rússia e China, o Brasil foi o único país mencionado no
debate.
A reeleição de Trump
empoderaria o bolsonarismo não pelo que as relações com os Estados Unidos
poderiam proporcionar ao país do ponto de vista comercial, econômico. Há uma
sintonia política que não passa por isso, e motiva o Brasil a se submeter a uma
equação desigual, em que o alinhamento brasileiro claramente não tem
retribuição.
Por Trump, o Brasil aceita
condições menos favorecidas no comércio de etanol e o chanceler se abala até
Roraima para servir de escada a um gesto político do secretário de Estado.
A similaridade entre Trump
e Bolsonaro é assustadora, como ficou nítido no debate. Trump demonstrou na
lancinante hora e meia de refrega com Biden que não titubeia em deixar no ar o
risco de uma ruptura institucional, caso não consiga permanecer no poder.
Também exaltou as forças armadas e policiais. Militarizou a pandemia, ao dizer
que vai acionar a tropa para distribuir doses da vacina contra Covid-19.
Bateu e rebateu na tecla
do anticomunismo. Agrediu a imprensa. Recusou-se a condenar a extrema-direita.
Responsabilizou os governadores por dois males que afligem os Estados Unidos: a
desaceleração da economia, supostamente produto de um fechamento exagerado de
atividades por conta da pandemia e a escalada da insegurança,
Para completar, colocou em
dúvida a qualidade do sistema de votação no seu país e flertou com o
negacionismo sanitário, ao relativizar a importância do uso de equipamentos
individuais de proteção, como a máscara.
Torna-se difícil citar
pelo menos uma diferença entre ambos. Talvez seja possível dizer que o discurso
religioso, tão preponderante na retórica bolsonarista, não marcou a fala de
Trump na noite da terça-feira. Não houve as citações de João, capítulo 8,
versículo 32.
Bolsonaro converteu-se, de
certo modo, em uma franquia de Trump. Um dos arquitetos da vitória republicana
em 2016, Steve Bannon, também foi um conselheiro na eleição do presidente
brasileiro dois anos depois.
Grandes influenciadores
bolsonaristas nas redes sociais fazem parte do ramo endinheirado da colônia
brasileira no país, que atua nos setores financeiro e imobiliário. Estes
brasileiros estão profundamente vinculados a estrategistas da direita radical
americana. Olavo de Carvalho, de longe o principal agitador cultural, não tem
este tipo de ligação, mas de seu bunker no sul dos Estados Unidos recebe a
influência da direita americana e dá lógica e coerência interna para todo o
discurso extremista brasileiro.
É para os Estados Unidos
que correm os bolsonaristas que, por um motivo ou por outro, estão preocupados
com a reação da Justiça brasileira às suas demasias. Não à toa Bolsonaro quis
nomear um operador político- seu próprio filho, Eduardo- para ser embaixador no
País. Ficou óbvio que o que guia o bilateralismo americano não é comércio e
economia. É ideologia.
Há uma mesma faixa. Trump
e Bolsonaro estão na mesma frequência modulada. O possível descarrilamento nos
Estados Unidos da estrada da direita radical abre perspectivas perturbadoras
para políticos como o brasileiro.
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A eleição paulistana, como
mostra a pesquisa da XP/Ipespe divulgada com exclusividade pelo Valor, mostra que Celso
Russomanno nunca teve uma chance tão boa de chegar ao segundo turno como agora.
Está colado ao presidente Jair Bolsonaro, que conta com 28% de aprovação na
cidade, e se beneficia do recall das eleições passadas, que o situam acima do
patamar de 20%. Precisamente 24% no XP/Ipespe. O desafio é o que acontece
depois. A posição de Russomanno para disputar o segundo turno é ruim.
Bruno Covas tem 21% na
pesquisa. Se enfrentar o tucano no segundo turno, como tudo no momento indica,
será difícil para Russomanno herdar os votos da esquerda. Boulos, Tatto,
Orlando Silva,, Vera Lúcia e Marina Helou no momento somam 15%. Covas consegue
37% na simulação de segundo turno. O voto do centrista Marcio França, por ora,
parece estar dividido, mas pende mais para o candidato bolsonarista. Russomanno
obtém 35% no embate direto contra Covas. A soma do seu caudal com os 6% de
Arthur do Val, Matarazzo, Levy Fidelix e Joice Hasselman e Felipe Sabará, todos
matizes de direita, agrega 30%.
Russomanno só consegue
vantagem clara se enfrentar Boulos no segundo turno, porque aí é possível
restabelecer o vigorosíssimo discurso antiesquerdista. Seria a repetição do
cenário do segundo turno carioca em 2016, em que Crivella teve a sorte de
chegar ao segundo turno contra o único candidato que conseguia sobrepujar.
Um levantamento no mês de
setembro com a análise de 31,5 milhões de posts no Twitter e no Facebook, feito
pela consultoria ponto Map, indica que o debate nas redes está longe da zona de
conforto bolsonarista.
A saúde lidera as menções,
com 17% de participação. Menos debatida, a Economia deu um salto de 5% para 9%
das menções. E não se fala mais tanto de auxílio emergencial, mas de
desemprego, inflação dos alimentos e perda de renda.
Bolsonaro não tem porque se envolver profundamente em uma eleição que corre o risco de perder. É bom Russomanno torcer para Boulos.
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