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Folha de S. Paulo
Muitos
intelectuais são responsáveis pela ascensão da extrema direita que repudiam
A
importância de entender "como as democracias morrem" é cuidar para
que sobrevivam. Elas podem morrer por processos violentos ou lenta degradação.
Os movimentos também podem ser combinados, com a degradação abrindo espaço para
processos violentos.
Alguns analistas viram no governo Trump um caminho de colapso da democracia
norte-americana, que só seria restaurada com sua derrota na tentativa
de reeleição. Todavia, Trump, apesar do seu acentuado personalismo e índole
bravateira, não colocou em risco a democracia americana, que se mantém firme
justamente por se sobrepor às idiossincrasias dos eventuais governantes. Pode
haver conturbações mais ou menos graves devido à sua teimosia
em relação ao resultado eleitoral? Pode. Porém, uma das
características da democracia é suportar e superar convulsões, administrando os
conflitos. Isto até certo limite, claro.
Há,
no entanto, uma forma de degradação da democracia que tem avançado
principalmente em países europeus: a covardia diante do fundamentalismo
islâmico. Os recorrentes ataques terroristas a várias democracias europeias têm
sido enfrentados com indignação ruidosa inicial e reação descontinuada em que
se vai transigindo e capitulando gradativamente. O mais das vezes, a tibieza de
alguns governantes é estimulada pela intelectualidade progressista em
inumeráveis ensaios e artigos.
Por ocasião do assassinato do professor Samuel Patty em Paris e, em seguida, de três
pessoas em Nice, o presidente da França, Emmanuel Macron, além de
ordenar a ação pontual que matou alguns terroristas e prendeu outros, usou
finalmente uma linguagem dura contra os islamitas. Pois houve quem preferisse
relativizar o terror para repudiar a linguagem de Macron, que teria sido
abusiva, melindrando cidadãos muçulmanos.
Essa covarde e demagógica retórica tem dado ensejo à retórica radical que se
lhe opõe. Muitos intelectuais são responsáveis pela ascensão da extrema direita
que repudiam.
*Catarina Rochamonte, doutora em filosofia, autora do livro 'Um olhar liberal conservador sobre os dias atuais' e presidente do Instituto Liberal do Nordeste (ILIN).
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