Se
é verdade que as eleições municipais têm mais influência local do que nacional,
seria também um erro recusar que delas emanam os ventos que movem a sociedade
na direção do futuro político que se consolidará nas eleições de 2022 para
presidente, deputados federais e senadores, essas, sim, reflexos da situação
social e econômica.
Três
disputas regionais transformaram-se em nacionais. No Rio, o prefeito Marcelo
Crivella pendurou-se em Bolsonaro para tentar virar o resultado contra Eduardo
Paes do DEM, mas tudo indica que só aumentou sua rejeição, já alta. Em São
Paulo, a disputa entre o PSDB de Covas e a esquerda, representada por Boulos do
PSOL, já dá uma boa indicação de que o PSOL pode vir a substituir o PT como
protagonista.
Em
Recife, a disputa familiar mais dramática também ganhou contornos nacionais.
Ali está a única chance de o PT vencer em uma capital importante, e a esquerda
rachou com o PSB.
A
vitória na eleição presidencial depende muito da estrutura partidária montada a
partir das municipais. Mas por vezes tivemos fenômenos pessoais, independentes
dos partidos, que se impuseram nas urnas, como Jânio Quadros, Collor de Mello,
Fernando Henrique Cardoso com o Real, mais recentemente Bolsonaro.
Lula não se pode chamar de um vencedor pessoal, pois já estivera nas urnas eleitorais por três oportunidades e tinha uma estrutura partidária que foi se consolidando ao longo dessa caminhada. Acabou maior que o PT, mas também a razão da debilidade do partido, seja pelas condenações por corrupção, ou pela incapacidade de permitir a ação de novas lideranças partidárias.
Bolsonaro
é exemplar de um candidato que parecia um outsider mesmo depois de mais de 30
anos de mandatos parlamentares sucessivos, e demonstrou um faro político
excepcional ao prever um espaço na direita nacional que, a partir de 2013,
vinha se impondo nas manifestações políticas contrárias aos governos petistas.
Assim
como o PT gosta de jogar todos seus adversários para a direita, também Bolsonaro
jogou o PT para a extrema esquerda, propiciando uma polarização entre a
extrema-direita e a extrema-esquerda. A centro-direita teve que ir para
Bolsonaro, pois não houve uma candidatura com capacidade de confrontar a
extrema-direita com uma proposta que se mostrasse vencedora contra o PT.
Bolsonaro
não tem espírito para ir para o centro. Lula era um líder sindical que sabia
negociar, Bolsonaro é um líder que quer se impor na base do grito e da opressão
do poder temporário que a presidência lhe dá.
Aquele
momento de 2018, quando a prisão de Lula radicalizou o cenário político, foi
superado pela realidade de um governo inepto que paralisou o país por dois anos
devido a uma maneira de fazer política que destrói sem construir nada em seu
redor.
O
cansaço do cidadão comum com Bolsonaro e seus aloprados que tentam, ainda hoje,
derrubar o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF), não deu margem a que a
esquerda se fortalecesse, porém. A direita saiu vitoriosa, mas não a direita
extremista. Os partidos que mais elegeram prefeitos foram MDB, PP, PSD, PSDB e
DEM. Apenas três partidos tiveram mais de 10 milhões de votos: MDB, PSD e PSDB.
Apenas
cinco partidos fizeram mais de 400 prefeitos e quatro mil vereadores: MDB, PP,
PSD, PSDB e DEM. Se fizermos de conta, como fizeram assessores palacianos, que
o presidente Bolsonaro é do Centrão, ele saiu vitorioso da eleição. Se formos
para a realidade, ele saiu derrotado na maioria esmagadora de suas indicações e
mais dependente ainda do Centrão.
Uma
demonstração clara de que ele hoje depende mais dos partidos do Centrão do que
o Centrão dele: o Republicanos, que filiou dois filhos de Bolsonaro e sua
ex-mulher que não foi eleita, disse, através do presidente Marcos Pereira não
haver hipótese de oferecer a Bolsonaro o controle do partido. O PSD já disse
que não é da base bolsonarista nem do Centrão, mantendo uma independência que
as urnas lhe deram. O PP tem dono, o senador Ciro Nogueira, assim como o PTB,
do ex-deputado Roberto Jefferson.
Não conseguindo organizar seu partido, Bolsonaro depende do Centrão para se resguardar de um impeachment - garantia relativa essa - e montar um esquema partidário para a tentar a reeleição. Não é mais aquele fator fora da curva que hipnotizou o eleitorado.
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