Uma
primeira observação é notar o sucesso relativo de várias regiões em lidar com a
pandemia; dentro do espaço econômico, porém, a assimetria de situações e
ampliação das desigualdades foram a marca universal
A
covid-19 dominou totalmente 2020: pela surpresa com que apareceu e velocidade
com que se espalhou pelo mundo, por sua durabilidade e pelos catastróficos
efeitos sobre as pessoas, as sociedades e o desempenho econômico. O único
alívio é a certeza de que teremos vacinas disponíveis já no primeiro trimestre
do próximo ano.
Vai levar muito tempo para que análises mais consistentes possam ser feitas quanto aos impactos do vírus. Entretanto, é útil fazermos um primeiro balanço. Uma primeira observação é notar o sucesso relativo de várias regiões em lidar com a pandemia, pois o ano foi mostrando resultados bastante diversos. Dentro do espaço econômico, porém, a assimetria de situações e a ampliação das desigualdades entre pessoas, regiões e empresas foram a marca universal.
Não
há nenhuma dúvida de que a Ásia sai ganhadora do enorme desafio de voltar à
normalidade. Isso porque a maior parte dos países do continente – a grande
exceção é a Índia – acabou por lidar bastante bem com a pandemia. A estratégia
bem-sucedida foi similar: quarentena e testagem da população em larga escala.
Após um eventual teste positivo, as autoridades sanitárias isolavam todos os
contatos do paciente, o que terminou por conter rapidamente a contaminação.
Como o vírus apareceu no primeiro trimestre de 2020, já a partir de abril a
maior parte dos asiáticos foi voltando ao trabalho. Com isso, alguns países,
como a China, apresentarão crescimento do PIB já neste ano. E todos vão crescer
com robustez em 2021. Além disso, no dia 15 de outubro, 15 dos países da região
assinaram um acordo comercial denominado Parceria Econômica Regional
Abrangente, que certamente acentuará a já avançada integração das cadeias
produtivas asiáticas, reforçando o crescimento.
Eis
aí mais um custo da gestão Trump, que em uma de suas primeiras medidas retirou
os Estados Unidos de outro acordo longamente negociado no governo Obama, o
Acordo Transpacífico. Essa negociação buscava reforçar a posição dos parceiros
americanos na Ásia de sorte a conter a expansão chinesa. A decisão de Trump
criou a oportunidade para a China, que dela alegremente se aproveitou. O
crescimento de boa parte dos países da Ásia entre 2020 e 2021 será
significativo, especialmente na China, cujo PIB expandirá 10%, segundo as
últimas projeções do FMI.
Os
Estados Unidos, por outro lado, ainda estão sofrendo muito com a disseminação
do vírus. Na média móvel de sete dias terminada no dia 23, ocorreram quase 170
mil novos casos e mais de 1.500 mortes por dia, um número elevadíssimo. Isso é
o resultado do negacionismo do governo americano – aliás, similar ao do
brasileiro. A economia deve se contrair 4,3%, o que não será compensado pela
projeção de um crescimento de 3,1% no próximo ano. No biênio, a economia
americana, embora apresente dinamismo na área tecnológica e no mercado imobiliário,
ainda andará de lado porque largas frações dos serviços e o mercado de trabalho
continuarão sofrendo com a imposição do distanciamento social. O resultado da
eleição mostrou um país muito dividido, que torna muito mais difícil implantar
novas políticas públicas.
Com
essas projeções, a distância entre a economia da China e a americana encolherá
incríveis 10% em dois anos!
O
terceiro bloco econômico relevante é o europeu. O impacto da segunda onda da
covid no Velho Continente está sendo muito grande. O FMI projeta queda no PIB
em torno de 10% na França e na Itália e de 13% na Espanha. O ponto positivo é
que, em meio à tormenta, França e Alemanha se puseram de acordo quanto à
política fiscal, decidindo pela emissão de € 750 bilhões em bônus para apoiar a
retomada. Além disso, o grupo decidiu também estimular investimentos de uma
agenda de futuro: descarbonização e novas energias, baterias e eletrificação da
frota, inteligência artificial e outras.
Finalmente,
e lamentavelmente, as perdas na América Latina serão enormes, especialmente na
Colômbia, no México, no Peru e na Argentina, com retração próxima ou superior a
10% no PIB. Mesmo no Chile, país exemplo da região, a economia deve recuar 6%.
Em todos os países, exceto o Uruguai, vemos crises políticas significativas. O
Brasil, com nossa projeção de queda de 4%, até que não se sai tão mal no meio
desse banho de sangue.
* Economista e sócio da MB Associados.
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