Muitos
riscos rondam a economia do Brasil, segundo o ex-secretário do Tesouro Mansueto
Almeida. Ele acha desejável haver ideias diferentes para resolver o problema
das contas públicas, mas defende que haja clareza no diagnóstico. Alerta que
não temos margem para errar. O déficit fiscal este ano vai ser de 17% do PIB,
incluindo os juros. Quase 70% da dívida está atrelada a juros de curto prazo.
Por enquanto, “respiramos”, diz ele, porque a Selic está baixa. Mas a inflação
está subindo e os juros futuros refletem a falta de confiança. “Se a gente não
der os sinais certos, quando os juros subirem teremos um baita problema”. Ele
defende um grande debate nacional sobre as renúncias tributárias, mas é contra
novos impostos:
— Já temos carga tributária elevada, o espaço não é o mesmo dos anos 90. O governo federal perdeu dois pontos do PIB de arrecadação em relação ao que era entre 2011 e 2013. É a perda das crises. Não se sabe quanto disso pode ser recuperado. Em um país com carga tão alta, vamos ter que rever renúncias tributárias. Mas para isso tem que começar o debate hoje, como foi na Previdência. Um dos grandes benefícios da Previdência foi que passamos três anos discutindo e isso permitiu a sua aprovação.
Ele
avisa que não é fácil eliminar subsídios, por isso será preciso se preparar
para esse debate. Cada subsídio, cada renúncia fiscal, tem seus defensores.
Subestimar as dificuldades nesse tema é o caminho do fracasso.
Que
risco? O da quebra da confiança de que o governo pode pagar a dívida pública.
Em 2002, com a turbulência prévia da eleição de Lula, a dívida líquida chegou a
60% do PIB. Depois da posse, o dólar caiu, o governo cumpriu superávits e em
2013 ela era de 30% do PIB. Esse ajuste se perdeu. A dívida líquida bateu em
55% no ano passado. Pelas projeções do Ministério da Economia este ano vai para
65% e em 2028 estará em 87%. A bruta vai para 98%.
Para
piorar o ambiente de déficit e dívida crescentes, a inflação subiu.
—
Há seis meses, a expectativa de inflação para este ano era de 2%. Hoje está em
3,8%. A do ano que vem também subiu. Isso pode levar a um aumento dos juros que
vai impactar a dívida toda concentrada no curto prazo. A curva dos juros
(futuros) expõe o tamanho da incerteza sobre como o Brasil vai resolver o
problema. E não é daqui a quatro, cinco anos. As pessoas querem clareza para os
próximos seis meses.
Mansueto
lembra que na democracia as soluções são encontradas no debate. Diz que é
natural, e desejável, que cada corrente de pensamento defenda a sua ideia sobre
como resolver esse nó fiscal. Mas faz um alerta.
— É legal ter propostas diferentes, mas não pode haver disparidade sobre o diagnóstico. Não temos margem para erro daqui pra frente.
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