Política
é a arte da conversa em busca do entendimento
Sem
conversa não se faz política. É saudável que os diretamente interessados nas
eleições presidenciais de 2022 comecem a conversar. Daí porque é estranha a
reação do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, à notícia de
que o apresentador Luciano Huck e o ex-juiz Sérgio Moro se reuniram.
Huck
ainda não teve coragem para se assumir como candidato à sucessão de Jair
Bolsonaro, e pode ser que jamais venha a ter. Mas ele se mexe como se pudesse
ser. Moro é mais discreto. Mas mesmo que não concorra, seu apoio será
disputado.
Maia
disparou em Moro ao dizer que não apoiará “uma chapa integrada por alguém de
extrema-direita”. A mulher de Moro, no passado, disse que o marido e Bolsonaro
são a mesma coisa. À época, Moro e Bolsonaro estavam de bem.
Foi
a declaração de uma mulher eufórica com a perspectiva de ver o marido ocupar
uma vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal. Ela não repetiria, hoje, o
que falou. De resto, se Moro é um extremista de direita como quer Maia,
Bolsonaro é o quê?
Lula
e Ciro Gomes também conversaram. Lula nada revelou a respeito. Ciro, provocado,
afirmou: “Lavamos roupa suja pra valer. Sob o ponto de vista das compreensões
da questão brasileira, continuamos como estávamos antes de conversar”.
Fiel ao seu estilo briguento, Ciro aproveitou para bater em Moro, no governador João Dória (PSDB) e indiretamente no ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta que andam tendo muitas conversas. Acusou-os de ser de direita. De centro, seria ele, Ciro.
O
“Efeito Joe Badin” já se faz sentir nas preliminares da eleição presidencial de
2022. São muitos os aspirantes a candidatos desejosos em se credenciar como possíveis
nomes do centro. Ou de centro-esquerda. De centro-direita, só se for muito
necessário.
Derrotado nos EUA, Bolsonaro prepara-se para perder aqui
Deve
haver alguma razão para que ele se comporte assim
Foi
ontem que o presidente Jair Bolsonaro, no que chama de seu programa eleitoral
gratuito no Facebook, apareceu ao lado da Delegada Patrícia Amorim (PODEMOS),
candidata a prefeita do Recife. Mas foi na semana passada que anunciou seu
apoio a ela.
Até
então, Patrícia estava bem nas pesquisas de intenção de voto. Superara o
candidato do DEM, Mendonça Filho. E ameaçava atropelar Marília Arraes (PT) para
disputar o segundo turno com o deputado João Campos (PSB). Por enquanto, já não
ameaça.
A
mais recente pesquisa Ibope mostra que Patrícia caiu quatro pontos percentuais,
que Mendonça Filho cresceu e Marília também. O índice dos eleitores que dizem
que não votarão de jeito nenhum em Patrícia dobrou nos últimos sete dias.
Em
São Paulo, Celso Russomanno (Republicanos), o candidato festejado por
Bolsonaro, continua andando para trás. Despencou de 20% para 12% e ficou um
ponto percentual atrás de Guilherme Boulos (PSOL). A rejeição a Russomano bateu
a casa dos 40%.
Bolsonaro
ainda tem esperança de que seu candidato a prefeito do Rio, Marcelo Crivella
(Republicanos), dispute o segundo turno com Eduardo Paes (DEM). Ele está um
ponto à frente da Delegada Martha Rocha (PDT), mas cresce entre os eleitores
mais pobres.
Cresce
também a torcida de Paes para enfrentar Crivella no segundo turno. Seria para
ele o adversário mais fácil de derrotar. Em sua live no Facebook, Bolsonaro
citou outros candidatos que têm o seu apoio nas capitais. Todos na rabeira das
pesquisas.
Votar
neles, segundo disse Bolsonaro, seria uma maneira de fortalecê-lo e ao seu
governo, e de derrotar os que lhe fazem oposição. Sim, Bolsonaro disse isso,
sujeitando-se a que se diga mais tarde que seu apelo não foi atendido e que ele
perdeu.
Bolsonaro
começou a cavar sua derrota nas eleições deste ano quando abandonou o PSL pelo
qual se elegeu presidente da República, e tentou, mas não conseguiu criar um
partido para chamar de seu. Prometeu então que ficaria neutro. Não ficou.
No
caso das eleições americanas, para quem se diz amigo de Trump que não
fala a sua língua, nem Bolsonaro a dele, poderia até ser compreensível que
apostasse em sua vitória. Mas não a ponto de negar-se a reconhecer que Joe
Biden ganhou.
Escolheu,
portanto, comportar-se como se ele, Bolsonaro, também tivesse perdido, e, como
Trump, alimentasse a esperança de reverter a derrota no tapetão da
Suprema Corte. A opção por ser vencido lá e cá deve ter alguma misteriosa
explicação.
Dizem
ministros que o cercam que Bolsonaro com isso quer dar mais uma demonstração de
fidelidade à sua base eleitoral de raiz que não admite recuos. Ela está
incomodada com o fato de ele ter se rendido à política tradicional que antes
dizia abominar.
É, pode ser. Mas essa base já foi muito maior. E tende a encolher mais quando aparecerem nomes para disputar seus votos com Bolsonaro em 2022. Aí o bicho vai pegar para ele.
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