A
correção de rumos nos EUA tem algo a nos ensinar
As
imagens de celebração nos Estados Unidos mostram um carnaval incomum. Uma
explosão de alegria e alívio por se verem livres do governante que exerceu o
poder com doses extremadas de ódio, mentira e violência.
Biden
venceu porque conseguiu convencer a maioria dos eleitores de que será capaz de
restaurar a civilidade no jogo político. O jogo é bruto, mas para ter sua
legitimidade reconhecida precisa ser exercido com algum nível de lealdade e
respeito às regras. Fora isso, é a barbárie, que seria aprofundada num segundo
mandato de Trump.
Sua
derrota é o triunfo de uma percepção de sociedade em que se espera que haja
lugar para todos, em que pese a profundidade do abismo que separa as classes.
Por isso, a palavra "possibilidade" tão presente nos discursos de
vitória da dupla Biden-Harris.
Mais
do que palavras, porém, a poderosa figura de Kamala Harris é a tradução
concreta dessa possibilidade. Mulher, negra e filha de imigrantes, ela chegou
lá, na chapa com o político branco e rico, há 50 anos no mainstream da
política.
A
dupla vencedora é a imagem síntese das contradições e das possibilidades na
sociedade norte-americana. Se isso vai se refletir em políticas de redução ou
contenção das desigualdades, só os próximos quatro anos vão dizer.
A
chapa eleita também encarna a vitalidade da política identitária. No seu discurso,
Biden deu ênfase à necessidade de erradicar o racismo sistêmico e destacou a
participação de gays, transgêneros, latinos, asiáticos e populações nativas na
aliança que o alçou à vitória. Um contraste notável com seu oponente.
A correção de rumos nos EUA tem algo a nos ensinar, bem como os acontecimentos recentes no Chile e na Bolívia. A extrema direita conta com a apatia e o cansaço da população com a política. É contra esse desânimo que as forças progressistas no Brasil têm que lutar. Não inventaram nada melhor que a democracia para derrotar a barbárie.
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