Além
de reinventar seu governo, Bolsonaro vai ter de se reinventar
Derrota
de Donald Trump nos Estados Unidos, fragilidade do presidente Jair Bolsonaro nas eleições
municipais e total falta de estratégia para enfrentar a crise
econômica e social. É nesse ambiente que viceja a articulação de uma chapa
alternativa de centro para 2022, com participação de Luciano Huck, João Doria, Rodrigo Maia, Luiz Henrique Mandetta e agora Sérgio Moro,
além de Fernando Henrique Cardoso. O cerco vai se fechando contra
Bolsonaro.
Mais
à centro-direita do que propriamente ao centro, a ambição é atrair a direita
moderna, que votou em Bolsonaro, mas agora só pensa em se descolar dele, e a
parcela da esquerda que cansou da hegemonia e dos erros do PT, mas tem como
prioridade livrar o País de Bolsonaro. Os ventos favoráveis vêm de fora, com a
eleição de Joe Biden e Kamala Harris,
e de dentro, com as eleições municipais e as investigações sobre rachadinhas no
Rio.
Como sempre, Bolsonaro vai na contramão do mundo democrático e se recusa a cumprimentar o vitorioso nos EUA, até mesmo a explicar por que não, o que só piora as perspectivas para a relação com o novo governo. Tão negacionista quanto Trump na pandemia, ele também nega os votos e a realidade, como ele. Bolsonaro acha que Trump venceu? Foi tudo fraude?
Assim,
ele repete a campanha de 2018 só na forma, animando claques com muita
antecedência pelo País afora, mas vai ter de inventar um novo conteúdo. O de
dois anos atrás caducou: “nova política”, combate à corrupção, apoio à Lava
Jato, reformas e carta-branca para o “Posto Ipiranga”, caneladas no mundo árabe
e alinhamento automático com os EUA de Trump.
No
governo, ele mergulhou no Centrão, derrubou Moro, botou a mão em PF, Coaf e
Receita, abandonou as reformas tributária e administrativa, tirou gás de Paulo
Guedes e agora fica sem Trump – e sem política externa. É bem mais complicado
dar caneladas na China. Sem falar da pandemia...
Logo,
Bolsonaro precisa, para se reeleger, muito mais do que fazer piadas de profundo
mau gosto com Guaraná Jesus, assim como precisa mais do que Celso Russomanno em
São Paulo e Marcelo Crivella no Rio para escapar da derrota no domingo.
Dificilmente a onda bolsonarista de 2018 se mantém agora e em 2022. O PSL foi
um meteoro e passou.
O
quadro que se desenha também é outro. Pela esquerda, o ex-presidente Lula, sem
viço e sem discurso, já não é o mesmo. E as eleições municipais são um bom
presságio do que vem pela frente, com o PT perdendo espaço para PSOL, PDT e
PSB, pela ordem, em São Paulo, Rio e Recife e projetando que em 2022 é cada um
por si, ou todos por um – que não será o PT.
Pela
direita, Bolsonaro reina sozinho, agarrado ao mesmo Centrão que não deu para o
gasto com o tucano Geraldo
Alckmin em 2018. Mas ele, Bolsonaro, não é mais novidade, sofre
o desgaste do poder e não tem o que mostrar. As “qualidades” eram falsos
brilhantes, os defeitos se tornam mais e mais evidentes.
Há,
portanto, um cenário que favorece o centro conhecido, confiável, que não dará
cambalhotas, com surpresas e choques. Os articuladores de uma chapa alternativa
veem insegurança por toda parte – na economia, na política, no meio ambiente,
na política externa... – e chegaram a uma conclusão: a palavra de ordem de 2022
será estabilidade.
Reunir tanta gente, com tantos interesses e divergências ideológicas, porém, não será fácil. Rodrigo Maia se opõe à integração de Moro, que tenta incluir até o general Hamilton Mourão, rifado da chapa de Bolsonaro. De concreto, portanto, só é possível dizer que a derrota de Trump é um forte baque no bolsonarismo e terá impacto na eleição presidencial de 2022. Além de reinventar seu governo, Bolsonaro vai ter de se reinventar. Alguém acredita que seja capaz?
Nenhum comentário:
Postar um comentário