O
Ministério da Economia ficou ausente de questões decisivas para a economia no
combate à pandemia. Na vacinação, os economistas poderiam ter induzido a
estratégia de comprar mais vacinas e não menos, exatamente para não concentrar
o risco. Em tempos de incerteza e de escassez, o certo a fazer é diversificar
riscos e ampliar potenciais fornecedores. Em relação ao auxílio emergencial,
era fundamental ter um plano para este momento em que as transferências vão secar.
Em
conversa esta semana com o economista José Alexandre Scheinkman, ele me chamou
a atenção para esse ponto:
—
O Ministério da Economia deveria ter alertado o governo que precisava formar um
portfólio diversificado. Nós economistas entendemos esse problema de risco e
diversificação. O pessoal da saúde pode não pensar nessa estratégia de
portfólio. O Canadá encomendou quatro vacinas para cada cidadão, de tipos
diferentes. No programa americano também há várias vacinas encomendadas.
No
fim do ano o cenário com o qual o Ministério da Economia trabalhava era o de
que a pandemia estava reduzindo sua intensidade e por isso não seriam necessárias
novas medidas de socorro à economia. O indicador que os orientava era o de
isolamento social. Como ele caía, concluíam que a economia iria recuperar o
nível de atividade, principalmente o setor de serviços. A queda do
distanciamento levou a um aumento da infecção. Sucessivas vezes durante esta
pandemia a realidade contrariou o cenário no qual apostou o Ministério da
Economia. Ele ficou, como se diz no jargão do mercado, todo o tempo behind the
curve, ou seja, correndo atrás dos fatos.
Se
avaliasse a evolução provável dos eventos com as ferramentas que os economistas
têm, o Ministério teria concluído que o governo estava tomando riscos
excessivos ao sustentar aquela visão de Bolsonaro de que o STF o impedia de
tomar decisões federais de coordenação do combate à pandemia. Esse erro elevou
os danos colaterais da crise sanitária.
Nos
Estados Unidos, o presidente Biden tomou decisões que mostram como é largo o
espaço para a coordenação da União, mesmo numa federação que sempre reconheceu
a grande autonomia dos estados e das cidades. Biden convocou a Fema, a agência
federal de administração de emergências, para fortalecer a vacinação. A Fema
vai montar centros de imunização. Biden determinou que sejam feitas campanhas
nacionais, algumas dedicadas exclusivamente às comunidades céticas. Vai fazer
campanha pelo uso de máscaras, além de ter obrigado o uso nos prédios federais.
O governo federal se ofereceu aos estados e cidades para “desenvolver, equipar,
prover gerenciamento de informação, oferecer pessoal e locais” para vacinação.
Enfim, a cada ato sensato de Biden, é inevitável ver a inação de Bolsonaro no
Brasil e o espantoso custo disso em vidas humanas e perdas econômicas.
A falta de gestão da crise a aprofunda e prolonga. Isso eleva a necessidade de socorro financeiro às famílias e pequenas empresas. As quedas na saúde estão totalmente ligadas às quedas na economia. Por não preparar em tempo um substituto ao auxílio emergencial, o Ministério da Economia está se deixando empurrar para alguma solução que será de novo improvisada.
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