Placar
parcial no Congresso: 100% de apoio ao auxílio emergencial, 0% para o
Ministério da Economia
É
uma roda de ciranda a coleção de compromissos assumidos na área econômica pelos
candidatos à presidência da Câmara e
do Senado.
Quatro dos quatro principais candidatos (os senadores Rodrigo Pacheco e Simone Tebet e os deputados Baleia Rossi e Arthur Lira) deram declarações de
apoio à nova rodada do auxílio emergencial, que o ministro Paulo Guedes resiste em aceitar.
Resultado até agora: 100% de apoio para o auxílio contra 0% para o Ministério da
Economia.
Guedes,
por sua vez, quer uma nova CPMF para
financiar a desoneração da folha e aposta na vitória de Lira, que, no ano
passado, indicou essa possibilidade “desde que com alíquota baixa” para criar
empregos.
Contrário
ao novo imposto, Baleia Rossi, que é autor da PEC 45 de reforma tributária,
sai a campo e marca posição depois que reportagem do Estadão mostrou que
o plano de Guedes para a recriação do imposto não morreu. “Meu adversário é
pura metamorfose ambulante. Ele já quis CPMF. Depois, disse que não é bem
assim.”
Pisando em ovos e com as redes sociais repercutindo negativamente o risco da volta da CPMF, Lira desconversa, finge esquecer o apoio dado há poucos meses, liga para Guedes e cobra explicações do ministro. O Ministério da Economia diz que “não tem nada disso” e tenta abafar o assunto. A recomendação é ninguém falar nada agora para não atrapalhar a eleição. Mas o tema volta com Pacheco, que afirma que “pode se discutir, criar a CPMF e desonerar a folha, é até aceitável desde que haja desoneração na outra ponta”.
Assim
como Baleia não pode fechar as portas totalmente para o imposto sobre
transações, porque tem também entre seus apoiadores defensores da desoneração
dos salários, Lira tampouco quer afastar aqueles parlamentares que têm ojeriza
à CPMF.
Baleia
diz que a CPMF representa aumento de carga tributária. Governo e aliados tentam
emplacar a narrativa de que a PEC 45, patrocinada pelo arqui-inimigo Rodrigo
Maia, é que vai elevar o peso dos impostos. Bolsonaro pega carona e diz: “Se a
reforma provocar aumento de tributos, é melhor deixar como está”. Resultado até
agora: ninguém ganha, e a reforma tributária, que todos dizem querer 100%, fica
ainda mais difícil e distante.
Se
há uma pauta que revela como nunca a sinuca de bico desses acordos do plantão
eleitoral é o das privatizações. No auge da briga com Maia, Guedes o acusou de
bloquear o avanço das privatizações da Casa de Moeda e Eletrobrás, por causa de um acordo que
ele teria feito com o PT para
se reeleger presidente da Câmara.
Agora,
o ministro assiste a Pacheco, o candidato do Planalto, ser apoiado pelo PT e
detonar a privatização da Eletrobrás, a principal da lista de Guedes para 2021.
A disfuncionalidade da aliança do PT na Câmara com Baleia, muito criticada por
Guedes, e no Senado com Pacheco bloqueia os planos do ministro,
independentemente do vencedor. Resultado até agora: chances mínimas de a
privatização avançar.
Quando
o assunto é teto de gastos, a maioria defende a sua manutenção com
responsabilidade fiscal, mas só Pacheco pula a cerca e diz: “Teto de gastos não
pode ficar intocado”. Indicadores do mercado desabam na mesma hora. Simone
Tebet, sua concorrente na eleição, vai ao mercado no dia seguinte e propõe
discutir mudanças na metodologia. Tebet, Baleia e Lira sabem que segurar o
rojão para manter o teto não será fácil, com o Orçamento apertado
para atender a tantos compromissos e à demanda do enfrentamento da covid-19.
Resultado
até agora: teto balançando mais e gatilho quase acionado para a renovação do
auxílio, com a queda de popularidade de Bolsonaro pelo desastre na condução da
pandemia.
A
equipe econômica tenta segurar até março a pressão. Mas tem gente graúda que
aposta alto que o ministro vai fazer do limão uma limonada e aceitará a nova
rodada, com a condicionante de que o Congresso aprove em um mês uma
PEC com medidas de ajuste. Até lá, Guedes vai segurando a pressão com a
promessa da sua ciranda econômica: antecipação de 13.º salário e abono,
liberação de FGTS,
adiamento de impostos...
Parlamentares
podem até dizer que está tudo normal. Mas tem candidato vendendo como vantagem
a promessa eleitoral de que “promessa com ele é cumprida”. Nenhum deles escapa
da metamorfose ambulante de Raul Seixas. Tudo isso no caldeirão do
impeachment.
Com essa ciranda disforme, será trabalhoso dar rumo para a pauta econômica depois das eleições, porque ninguém sabe direito que bicho sairá dali. Será que é um jacaré?
Nenhum comentário:
Postar um comentário