Confesso que não sou especialista nas tramas e nos segredos da internet. E que também não tenho paciência para responder, um a um, cada comentário provocado. Mas as tempestades de sandices, como a da última semana, sobre a posse de Joe Biden, o livro de Chico Buarque, “Essa Gente”, e a vacina do Butantã, me fazem publicar, vez ou outra, frases de pensadores de várias épocas, que traduzem meu espírito diante de afirmações assertivas de que Biden é comunista, que a vacina de Dória é ineficaz, só marketing e uma trama diabólica da China, e que Chico é terrorista e deveria estar preso, além de centenas de postagens impublicáveis.
Claro que as reações violentas e mal educadas em muito partem dos conhecidos robôs e algoritmos dos “engenheiros do caos”. Mas, muitos dos fanáticos ideológicos são de carne e osso, alguns até amigos próximos ou ex-eleitores decepcionados. A eles dedico algumas citações que postei ao longo dos últimos dois anos: “As redes sociais deram voz a uma legião de imbecis” (Umberto Eco), “A estupidez é infinitamente mais fascinante do que a inteligência. A inteligência tem seus limites, a estupidez não” (Claude Chabrol), “A ignorância é a maior multinacional do mundo” (Paulo Francis), “O ignorante afirma, o sábio duvida e reflete” (Aristóteles). Pode parecer arrogante, e de certa forma, é. Mas do jeito que as coisas vão, estamos caminhando celeremente para o império da ignorância e suas “verdades” instantâneas, incultas e alternativas. Minha geração foi criada na boa literatura. E, feliz ou infelizmente, crescemos para ter mais dúvidas do que certezas e, por consequência, sermos mais tolerantes e abertos.Fato
é que “Essa Gente” do Chico é uma boa leitura, embora prefira do autor
“Budapeste”; o esforço gerencial hercúleo de João Dória e do Governo de São
Paulo frutificou na única vacina disponível para a imunização da população
brasileira; e, o experiente, moderado e conciliador Joe Biden tomou posse para
pacificar os espíritos nos EUA e retomar a cooperação global, inicialmente
retornando a OMS e ao Acordo de Paris.
De
tudo, ficam lições. É preciso a eterna vigilância para garantir a liberdade.
Nossa política externa terá que tomar novos rumos. Teremos que repensar nossa
inserção no mundo globalizado, visto que ficou evidenciada a nossa total
dependência para obtenção de medicamentos, equipamentos médicos, insumos
farmacêuticos, vacinas. Teremos que fortalecer o SUS e o desenvolvimento científico
e tecnológico. Não poderemos nos contentar passivamente em sermos apenas
produtores de commodities (soja, café, proteína animal, minério de ferro).
Eu
bem sei que não é fácil ser um “iluminista” na era das redes sociais, com suas
“verdades” superficiais e lacradoras. Mas as trevas não são uma boa opção para
o Brasil. As trevas passam. Trump, sua arrogância e intolerância, passaram.
*Marcus Pestana,
ex-deputado federal (PSDB-MG)
Nenhum comentário:
Postar um comentário