Tempo
que se perde rodando em círculos significa mais gente passando necessidade em
todo País
O
recuo de 6,1% das vendas do varejo de novembro para dezembro surpreendeu
negativamente e mostrou que a segunda perna da retomada em V da economia está
cambaleando. Um carimbo a mais para sinalizar a perspectiva pior para a
economia no primeiro trimestre deste ano.
A
razão do aumento da pressão pelo retorno auxílio emergencial deriva
muito mais desse diagnóstico econômico do que uma preocupação genuína dos
parlamentares com a situação de pobreza e dificuldade que passam milhões de
brasileiros sem trabalho e renda nessa segunda onda da pandemia, com cepas mais
perigosas do vírus, lentidão da vacinação e média móvel de mortes acima de mil
pelo 21.º dia seguido.
Fosse
o contrário, governo e parlamentares já teriam corrido para dar uma solução
para o problema muito antes de o auxílio emergencial acabar. Era tudo
previsível. Agora, a solução ficou para depois do carnaval, mesmo após dez dias
do resultado das eleições do Congresso. Esse tempo que se perde
rodando em círculos significa gente passando necessidade.
Boa
parte da pressão a alimentar a movimentação dessa semana pró-auxílio vem de
deputados, prefeitos e governadores aliados desesperados por uma injeção de
estímulo para a economia. Isso fez o presidente Jair Bolsonaro tirar a fantasia
antes mesmo de o carnaval começar e dizer que a medida é para ontem (até então
ele se mostrava contrário à prorrogação). O dinheiro do auxílio que foi direto
para o consumo sustentou a arrecadação e, agora, a sua redução, a partir do fim
do ano, mostra forte impacto econômico.
Todos os políticos que correm agora para defender a urgência do auxílio (parlamentares e administradores públicos de todos os Poderes) deveriam estar preocupados também em reforçar o planejamento das restrições de isolamento para barrar o avanço da covid-19.
Até
agora, infelizmente, toda a discussão em torno da prorrogação do auxílio está
desconectada de medidas restritivas. Elas só acontecem nos locais quando a
situação de colapso e caos se instalou. E mesmo assim meia-boca.
Sem
essa conexão, o auxílio, mesmo que necessário e urgente, se revela tão somente
como uma medida de transferência de renda aos pobres, que já podia ter sido
desenhada desde o ano passado e aprovada pelo Congresso.
Por
que não aproveitar as negociações da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) de
orçamento de guerra, que o ministro Paulo Guedes exige para dar o
auxílio, para cobrar dos prefeitos algum tipo de compromisso nessa
direção?
Se
Bolsonaro é contra, o Congresso poderia assumir essa campanha e
responsabilidade. A vacinação deu esperança, mas é lenta e tem servido para
mais afrouxamento do já escasso isolamento social. Um plano desse tipo
resultaria em menos mortes e, com certeza, em menor custo para o governo.
Na Alemanha,
o governo anunciou que prorrogará o lockdown em vigor até o dia 7 de março. Um
acordo fechado entre a chanceler Angela Merkel e os governadores
já prevendo de antemão flexibilizações. Aqui no Brasil, seguimos nesse rastro
de insensatez. Até locais com restrições mais sérias, como Belo Horizonte, já flexibilizaram.
Por
enquanto, é certo que muitos daqueles que nada fizeram para ampliar o nível de
isolamento da população vão bater na porta do Tesouro para pedir mais
estímulos. Não vai parar no auxílio. Estão sendo cobradas também a retomada do
programa de estímulo ao emprego (BEm), mais crédito subsidiado, suspensão de
pagamento de impostos...
O
ministro Guedes tem tentado segurar a pressão com medidas de antecipação de
recursos, com a antecipação do abono salarial, que injetam recursos na
economia. É pouco, mas tenta ganhar tempo.
Depois
do auxílio, que já está dado, a queda de braço de fato com o Congresso é que
vai começar. O Centrão virá
com tudo para cima de Guedes. A votação acachapante do projeto de autonomia do
Banco Central mostrou força, mas tem seu preço.
A aprovação da PEC de orçamento de guerra para dar o auxílio é inescapável e vai abrir a porta para mais pedidos de estímulos. O que sabemos de antemão é que a PEC vai ficar só na liberação das regras fiscais para gastar mais fora do teto de gastos. As medidas compensatórias cobradas por Guedes e Roberto Campos Neto, do BC, não vão rolar.
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