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O Globo
Em
novembro de 1993, a Polícia Federal encontrou na casa do diretor de relações
institucionais da Odebrecht em Brasília, Ailton Reis, documentos que implicavam
350 políticos em esquema de corrupção na distribuição de verbas do Orçamento da
União para empreiteiras.
O material acabou sendo neutralizado por erros banais cometidos pelo senador
José Paulo Bisol, membro da CPI do Orçamento. Bisol trocou algumas siglas da
Odebrecht, como DDPA, que significava “Dirigentes de Países”, por “Dirigentes
Políticos de Áreas”. Foi desmoralizado. O escândalo se esvaneceu rapidamente
dentro do Congresso.
Anos depois, em 2009, aconteceu a operação Castelo de Areia, contra a
empreiteira Camargo Corrêa, que teve quatro diretores presos. Os documentos
indicavam que a empresa usava doleiros e contas no exterior para pagar propina
para autoridades públicas e políticos de sete partidos.
Em 2010, o advogado Márcio Thomaz Bastos conseguiu que o ministro do STJ Cesar
Asfor Rocha, depois acusado por Palocci de ter recebido propina por essa
sentença, anulasse toda a investigação, sob a alegação de que partira de uma
fonte anônima. O ponto fora da curva aconteceu no chamado mensalão do PT,
ocorrido em 2005, que levou à prisão empresários e políticos, condenados pela
primeira vez pelo Supremo Tribunal Federal.
Em março de 2014 começou a Operação Lava-Jato, enterrada oficialmente no dia 4
deste mês, com a decisão do procurador-geral da República, Augusto Aras, de
desmontar a força-tarefa que funcionava em Curitiba havia sete anos, a maior e
mais exitosa operação de combate à corrupção no país, que retomou todos esses
escândalos anteriores, colocou na cadeia empreiteiros e políticos, que desde
sempre financiaram relações políticas corruptas. Inclusive o ex-presidente
Lula, que agora luta na Justiça para anular suas condenações, da mesma maneira
que historicamente foram anuladas todas as investigações sobre corrupção
política no país.
No julgamento sobre o acesso da defesa de Lula às mensagens roubadas dos
procuradores da Lava-Jato por hackers, o ministro Edson Fachin disse que o
recurso não poderia ter sido enviado a Ricardo Lewandowski, pois ele, sim, é o
ministro responsável. O Ministério Público classificou a manobra de “burla da
relatoria”.
O voto da ministra Cármen Lúcia tem um sentido que transcende a disputa
política, baseado numa simples questão: todos tiveram acesso a essas
informações, então a defesa de Lula poderia ter também. O que não quer dizer,
segundo a ministra, que sejam legais.
Acredito que o plenário decidirá pela ilegalidade delas, mas não terá
importância, porque os diálogos já foram divulgados. Por isso, a defesa de Lula
anunciou ontem que não os usará no julgamento da parcialidade do então juiz
Moro. O objetivo já foi alcançado: dar visibilidade aos diálogos roubados, que
não foram periciados, para influir na opinião pública e nos ministros do STF.
Fazem o que acusam Moro de ter feito, ao divulgar o diálogo entre a então
presidente Dilma Rousseff e Lula, que impediu a manobra de colocá-lo no
Gabinete Civil, blindado da Justiça. Há até uma interpretação hilária de um dos
diálogos, em que o procurador Dallagnol recebe nos Estados Unidos a informação
da condenação de Lula. “Dallagnol na Disney enquanto aqui Lula é condenado”,
brinca um dos procuradores. Dallagnol responde “Presente da CIA”.
Petistas alegam que ele está confessando que a prisão foi um presente da CIA,
quando está claro que está gozando a mania de dizerem que os procuradores
trabalham para CIA e que ir à Disney teria sido uma recompensa.
Há quem veja nos diálogos revelação de que o jornalismo profissional colaborou
acriticamente com a Operação Lava-Jato. Mas e os que colaboram com o petismo
para inocentar Lula de todas as acusações, seriam esses os verdadeiros
jornalistas? O caso agora virou uma luta política de narrativas. Durante cinco
anos, prevaleceu a da Lava-Jato. A reação do establishment político veio, como
aconteceu na Itália das Mãos Limpas. Nada indica que seja o fim, como disse o
ministro Edson Fachin.
#ficaimprensa
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