André
Shalders / O Estado de S. Paulo
Levantamento do ‘Estadão’ mostra que maior parte dos deputados apoia pautas do Planalto e que provável desfiliação de Rodrigo Maia não causaria ‘debandada’
BRASÍLIA
- A maioria da bancada do DEM na Câmara é simpática às pautas do governo
no Congresso e não descarta apoiar o presidente da República, Jair Bolsonaro, na disputa pela
reeleição em 2022. A provável saída do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (RJ) do partido
também não provocará uma “debandada” dos deputados da legenda. As conclusões
são de um levantamento do Estadão com
os parlamentares da sigla na Casa.
Nos
últimos dias, a reportagem contatou os 27 deputados em exercício do partido.
Dos 22 que responderam às perguntas, só dois – Alexandre Leite (SP) e Kim Kataguiri (SP) –
descartaram apoiar Bolsonaro em 2022. Outros seis disseram que vão apoiar o
atual presidente da República na disputa pela reeleição. Os demais afirmaram
que não decidiram ainda, mas deixaram aberta a possibilidade de defender uma
aliança com Bolsonaro. E nenhum deputado, com exceção de Maia, pretende deixar
o DEM.
Boa parte dos que foram ouvidos também se mostraram dispostos a apoiar as pautas do governo na Câmara, ainda que o alinhamento não seja automático.
Segundo o líder do partido, Efraim Filho (PB), a bancada “segue a linha da independência”. O grupo “aprovará os temas com os quais temos identidade, especialmente a agenda econômica, mas preservará a autonomia de divergir com temas discrepantes”, disse ele.
Apesar
disso, a sigla conta com dois ministros na gestão Bolsonaro (Onyx Lorenzoni na
Cidadania e Tereza Cristina na Agricultura), além de um deputado na função de
vice-líder do governo na Câmara (Paulo Azi, BA) e um no Congresso (Pedro
Lupion, RJ).
No
começo de fevereiro, a eleição para a presidência da Câmara expôs divergências
entre figuras poderosas do partido, como Maia e o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, e a
maioria dos deputados.
Inicialmente,
o DEM apoiou o candidato de Maia à presidência da Câmara, Baleia Rossi (MDB-SP). Às
vésperas da votação, porém, o partido retirou o apoio ao emedebista e adotou a
neutralidade. A mudança favoreceu o candidato apoiado por Bolsonaro, Arthur
Lira (PP-AL), que saiu vitorioso no primeiro turno, com 302 votos
Questionado
pelo Estadão,
Maia disse que o posicionamento dos colegas de bancada não o surpreendeu.
“Nenhuma novidade. O resultado da eleição da Câmara mostrou que isso é uma
tendência no partido. Independência não existe. Ou você é governo ou é
oposição”, disse o ex-presidente da Câmara.
Maia
também reconheceu que seu plano de deslocar o partido da direita para o centro
do espectro político deu errado. “Pela pesquisa que vocês (da reportagem)
fizeram, parece que sim, né? O projeto de levar o DEM para o centro fracassou”,
disse.
Sobre
a inexistência de um movimento de saída de deputados do DEM, Maia disse que não
está trabalhando para provocar uma revoada na sigla. “Eu não convidei ninguém
para sair comigo do partido. Nem mesmo o prefeito do Rio, Eduardo Paes”, disse
ele.
As
respostas dos deputados ao Estadão contrariam
o discurso do presidente nacional do DEM, ACM Neto.
Anteontem,
Neto jantou em São Paulo com o governador João Doria (PSDB) e, segundo
o tucano, disse que a sigla não apoiará Bolsonaro no Congresso e nem na disputa
de 2022. Doria também tem a intenção de disputar a Presidência nas próximas
eleições.
Pouco
após o governador relatar o encontro em entrevista a jornalistas ontem, ACM
Neto divulgou uma nota. No texto, o ex-prefeito de Salvador diz que “não
permitirá, neste momento, que aconteça qualquer debate interno sobre o processo
eleitoral de 2022”. “Esse assunto não compõe a agenda prioritária do País, e
nem da sigla”.
“Tal
como vem acontecendo desde o início de 2019, o DEM mantém sua posição de
independência em relação ao governo federal, não estando sequer sob discussão
partidária, qualquer posição diferente desta”, diz o texto assinado pela
Executiva Nacional da legenda. O Estadão apurou
que Neto tenta se livrar da pecha de “adesista” colada nele por Maia. O apelido
foi reforçado após o ex-prefeito dizer que não poderia descartar uma aliança
com Bolsonaro em 2022.
Levantamento
Dos
27 parlamentares procurados pela reportagem, só quatro não responderam aos
questionamentos: Carlos Henrique Gaguim (TO), Igor Kannário (BA), Juninho do
Pneu (RJ) e Marcos Soares (RJ). Do total, quatro são presidentes de diretórios
regionais do partido, o que significa que têm maior influência nas decisões
partidárias. São eles: Alan Rick (AC), Hélio Leite (PA), Norma Ayub (ES) e
Professora Dorinha (TO).
O
conjunto das respostas mostra que parte da bancada está magoada com Maia —
ainda mais depois das últimas declarações públicas dele com críticas ao
partido.
Arthur
Oliveira Maia (BA), por exemplo, ironizou ao ser perguntado se sairia do DEM.
“Kkkkk Era só o que faltava. Rodrigo já vai tarde”, disse ele por mensagem de
texto. Apesar do sobrenome, o baiano não tem parentesco com o carioca.
“Ninguém
na bancada, depois da última entrevista que ele deu, está feliz com ele (
Maia). Depois daquela entrevista, ele acabou com o nome dele. De vez. Se estava
ruim (o clima), agora está péssimo”, disse o deputado Luís Miranda (DF),
referindo-se à entrevista do ex-presidente da Câmara para o jornal Valor Econômico, publicada na
segunda-feira.
Sobre
o apoio ou não a Bolsonaro, alguns deputados foram enfáticos ao defender suas
posições. Kataguiri, por exemplo, disse que prefere fazer “campanha pelo voto
nulo antes de apoiar Bolsonaro”. Pedro Lupion (RJ), por sua vez, disse que é
“óbvio” que defenderá a reeleição.
A maioria, no entanto, preferiu a cautela. “Agora é momento de falar de Brasil”, afirmou José Schreiner (GO). “É muito cedo para falar de 2022. A gente nem sabe se estará vivo (até lá)”, disse Elmar Nascimento (BA).
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