quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Rixas internas desafiam oposição para 2022

Eleição na Câmara aprofunda divisão nos partidos que vão enfrentar Bolsonaro em 2022

Gustavo Schmitt, Sérgio Roxo, Cleide Carvalho e Dimitrius Dantas /  O Globo

SÃO PAULO — Os dez dias seguintes à demonstração de força do governo Bolsonaro com a vitória do deputado Arthur Lira (PP-AL) na eleição da presidência da Câmara dos Deputados agravaram as divisões nos partidos que pretendem enfrentar o presidente em 2022. Se a ideia de construir uma aliança mais ampla entre siglas que vão da centro-direita à esquerda poderia ter um ensaio na fracassada candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP) na Casa, sua derrota aprofundou o problema. Legendas de oposição não conseguiram se aproximar e esbarram, agora, em rachas internos.

Esta semana esses problemas vieram à tona no DEM, no PSDB e no PT. Cientistas políticos avaliam que o cenário desorganizado favorece Bolsonaro. A oposição, antecipou o debate sobre sucessão, mas, sem conseguir chegar a consensos e em meio a crises internas, pode não conseguir apresentar um candidato que não seja simplesmente anti-Bolsonaro, mas que represente um projeto.

Uma das siglas que poderia integrar uma aliança de centro para a próxima eleição, o DEM atravessa uma crise que deve levar à saída do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (RJ), junto com algumas dezenas de correligionários. O PSDB expôs divisões internas depois que o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), comunicou à cúpula do partido que pretende controlar a sigla e expulsar desafetos. Na esquerda, o cenário de divisão persiste depois que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu para o ex-ministro Fernando Haddad se apresentar como pré-candidato. O anúncio, sem debate, causou insatisfação no próprio PT.

O MDB é outro que saiu esfacelado da disputa pela presidência da Câmara. Após a derrota de Baleia Rossi (SP), há uma articulação, segundo o colunista Bernardo Mello Franco, para substitui-lo na presidência do partido pelo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha. O movimento visa aproximar a sigla do governo Bolsonaro.

— O momento é instável no sentido de que as elites políticas não conseguem, há mais de dois anos, construir um consenso: nem a esquerda que tinha uma hegemonia no PT, nem na chamada direita tradicional, que não é a direita populista representada pelo presidente — disse a cientista política Silvana Krause, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

O também cientista político Marco Antônio Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), afirma que, enquanto os partidos brigam internamente, Bolsonaro é poupado de críticas.

— As contendas internas das outras siglas explodiram e isso beneficia Bolsonaro. Os adversários estão brigando dentro de seus próprios partidos e isso poupa a artilharia que havia contra Bolsonaro — disse Teixeira.

Enquanto Maia não decide para qual partido vai, o presidente nacional do DEM, ACM Neto, tem trabalhado para evitar o enfraquecimento da sigla. Ele visitou Doria na noite de anteontem e manteve aberta a porta para o apoio a uma possível candidatura do tucano. Segundo pessoas próximas a Neto, ele disse que sua escolha pessoal não seria o apoio a Bolsonaro, embora já tenha afirmado que não poderia descartar esse caminho. Ainda de acordo com Neto, o DEM tem alas que abrigam de bolsonaristas a apoiadores de Luciano Huck e Doria, e ele não pode impor sua vontade.

Após o encontro, Doria disse que Neto lhe garantiu que o DEM não estará com Bolsonaro. Horas depois, o presidente do DEM divulgou nota em que diz que não haverá “qualquer debate interno no DEM” sobre 2022 neste momento.

Doria ainda teve que lidar ontem com a repercussão de sua tentativa de tomar o controle do PSDB a partir de maio. Em nota conjunta, os presidentes de todos os diretórios estaduais do partido pediram a prorrogação do mandato da Executiva Nacional por pelo menos mais um ano, o que frustraria seus planos. O pedido foi assinado, inclusive, por Marco Vinholi, que preside o PSDB em São Paulo e é aliado do governador. Ele também assistiu ao movimento de parlamentares que incentivaram o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, a entrar na disputa.

— Parte dos políticos está vendo que não dá para estar num partido que tem o projeto de uma única pessoa, como é o caso do Doria — afirmou Marco Antônio Teixeira.

Para Silvana Krause, há uma decepção do eleitor com o que ela chama de “nova direita populista”, representada por Bolsonaro. Mas não basta, aos partidos de centro, se apresentarem como anti-PT e anti-Bolsonaro.

PT em voo solo

No campo da esquerda, as divisões dos projetos presidenciais já estavam evidentes antes da eleição no Congresso. PT, PDT, PSB e PCdoB apoiaram formalmente Baleia Rossi, mas houve dissidências. As diferenças dentro da esquerda ganharam corpo quando Haddad anunciou que foi convocado pelo ex-presidente Lula a rodar o país e se apresentar como presidenciável.

O candidato derrotado a prefeito de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL), o governador Flávio Dino (PCdoB) e o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, criticaram o anúncio e cobraram dos petistas a apresentação de um projeto ao país e a necessidade de formação de um bloco. Pessoas próximas a Haddad avaliam que será difícil a união dos partidos em 2022. Para esses petistas, Ciro Gomes (PDT) e Boulos não cogitam abrir mão de seus projetos presidenciais.

Em entrevista ao Uol, Haddad disse que os partidos de oposição deveriam fazer um acordo de apoio a qualquer candidato que, possa enfrentar Bolsonaro no 2º turno.

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