Nas relações internacionais, vige o estado de natureza hobbesiano
Há
uma diferença importante entre o policial e o diplomata. Diante de crimes mais
sérios, policiais não têm opção que não a de indiciar os suspeitos,
independentemente do que achem da lei ou das circunstâncias que levaram ao
delito.
Nas
relações internacionais, as coisas são um pouco mais complicadas. Mesmo quando
a diplomacia está diante de um crime gravíssimo e muito bem documentado, pode
ver-se compelida a pegar leve com o autor. É o que acaba de fazer o presidente
dos EUA, Joe Biden, ao deixar de responsabilizar o príncipe saudita Mohammed
bin Salman pelo assassinato e esquartejamento do jornalista Jamal
Khashoggi em 2018.
O problema de base é que, nas relações internacionais, vige o estado de natureza hobbesiano. Sem uma autoridade central forte que a todos submeta, cada Estado é mais ou menos livre para agir como quiser. As principais limitações são a força de outros países, seguida de acordos e tratados internacionais, cuja imposição, entretanto, é fraca, e, no caso de democracias, da repercussão política que as ações possam ter para o público interno.
A
resultante desses vetores em nível nacional costuma ser uma política externa
pragmática, com algum tempero moral. Os EUA não podem dar-se ao luxo de romper
com os sauditas, um de seus principais aliados na região, então Biden optou por
pegar leve com o príncipe, mas sem deixar de sinalizar que reprova o homicídio
e que poderá reagir de modo mais duro se violações desse tipo se repetirem.
Uma
diplomacia totalmente pragmática, pautada exclusivamente por interesses, até
pode funcionar para países autocráticos, onde o líder não deve satisfações a
ninguém. Já uma diplomacia que se guie apenas por princípios acabaria
rapidamente isolada, sem nenhum aliado.
O
Brasil, com Bolsonaro e Ernesto Araújo no comando da política externa, corre o
risco de terminar sem aliados e defendendo posições imorais.
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