Saúde
e Economia caminham em passos distintos, enquanto o colapso do sistema de saúde
de Manaus atinge o resto do País
Na
briga insana contra as medidas de isolamento social para frear a
pandemia, Jair Bolsonaro repete a toda hora que a economia e a
saúde “andam juntas”. No seu governo, essas duas áreas, porém, não se
conversam.
Não
se tem notícia de nenhuma reunião de cúpula dos Ministérios da Economia e da Saúde – Paulo Guedes e Eduardo
Pazuello – para a organização de uma estratégia conjunta, a não
ser por repasse de dinheiro. Nenhum encontro sequer dos “generais” de Bolsonaro
num gabinete de guerra, de crise.
Saúde
e Economia caminham em passos distintos enquanto o cenário mais catastrófico do
início do ano se confirmou: a disseminação do colapso do sistema de saúde
de Manaus para
o resto do País.
Tudo ao mesmo tempo.
Vírus
avançando, com famílias inteiras contraindo a doença, UTIs lotadas, retrocesso
na retomada econômica, alta volatilidade dos mercados e desconfiança dos
investidores em relação ao que vai acontecer com o Brasil. A paciência deles
com o País indo embora.
É a tempestade perfeita, que ocorre quando um evento ruim é drasticamente agravado pela ocorrência de uma rara combinação de circunstâncias que se transforma em um desastre sem proporções.
É
bem verdade que vão dizer no governo que a coluna está equivocada. Que em março
do ano passado foi criado um comitê de crise para a supervisão e monitoramento
dos impactos da covid-19.
Que o comitê já publicou uma série de resoluções com ações para o enfrentamento
e está em pleno funcionamento. Que o comitê está atuando conjuntamente e tem
uma lista de medidas para provar isso. Que está dando tudo certo e dentro do
previsto.
Oficialmente,
o discurso é o de que Guedes e Pazuello mantêm diálogos constantes e frequentes
em relação às medidas para o enfrentamento da pandemia no Brasil, o que não
traria a necessidade de encontros presenciais.
Quem
viu essa tropa em ação reunida? O Ministério da Economia diz que faz a sua
parte com o repasse de dinheiro e o Ministério da Saúde faz a dele cobrando os
recursos que estão em falta.
No
domingo passado, Bolsonaro postou nas suas redes sociais uma foto enfileirado
ao lado dos presidentes Arthur Lira (Câmara), Rodrigo
Pacheco (Senado),
e os ministros Walter Braga
Neto (Casa Civil), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Guedes e
Pazuello. O assunto oficial: vacina e a PEC do auxílio emergencial.
O
tema de maior interesse foi outro: mostrar que Bolsonaro fez a sua parte
repassando recursos para os Estados no ano passado. Tudo isso para desmontar o
aperto nas restrições que estão sendo tomadas pelos governadores e prefeitos e
que a disponibilidade de caixa dos Estados e municípios fechou 2020 em patamar
70% maior do que um ano antes.
Isso
demonstra que ter mais dinheiro não basta. A prova disso é que o governo já
pagou R$ 524 bilhões em medidas emergenciais e o Brasil está no topo entre os
países com pior situação na pandemia.
Depois
da cloroquina e do tratamento precoce, a prova de energia
gasta fora do lugar é o envio de uma comitiva a Israel para conhecer o spray
para o combate da covid-19.
Mas
nunca mandaram uma comitiva de peso – de alto nível – atrás de vacina. Por que
não Guedes e Pazuello juntos numa comitiva? A equipe econômica pode e deveria
ter se engajado mais nessa cobrança e articulação da diplomacia, pois tem seus
canais particulares de diálogo internacional e instrumentos outros econômicos.
A compra de vacina é uma guerra internacional e se deve disputá-la com todas as
armas possíveis.
Com
o temor de uma desorganização econômica, Guedes repete que o Brasil precisa de
vacina. Mas não temos vacina. Com lucidez, disse que a guerra sem fim não vai
chegar a nenhum lugar. Guedes conta para o presidente? O pior temor de
Bolsonaro ao se lançar contra o combate duro da pandemia, o desastre econômico,
pode acabar se concretizando.
O
ministro já falou diversas vezes que aguardaria o sinal de Pazuello para
disparar as medidas de socorro e acionar o botão da calamidade. No fim de
janeiro, afirmou que o governo poderia retomar os programas de socorro, caso
houvesse o entendimento de que o número de mortes por covid-19 continuará acima
de mil por dia com a vacinação atrasada. Nessa situação, seria declarado
novamente “estado de guerra”.
Infelizmente, esse é o quadro de hoje no Brasil. Quem aperta o botão?
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