Baixo
acesso ao crédito, falta de socorro financeiro e contas a pagar preocupam
empresários do país
Isabela Bolzani /Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - As novas restrições de circulação em diversos estados pelo país terão impactos mais dolorosos na economia, afirmam representantes de diversos setores.
Sem
programas de manutenção do emprego definidos por parte do governo, baixo acesso
ao crédito e com um volume crescente de contas a pagar, o receio é de que as
empresas, principalmente as de pequeno porte, entrem
em colapso financeiro —aumentando o número de demissões e de
falências.
Segundo
o presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes),
Percival Maricato, apesar de as ações tomadas pelo governo serem vistas como
essenciais, o momento também requer novos programas de saneamento das
companhias.
“É difícil falar de planejamento financeiro nessa altura do campeonato, muita gente está tocando com a barriga para ver como vão sobreviver. Estamos com estabilidade de funcionários por seis meses, não estamos faturando e ainda temos que pagar bancos, proprietários dos imóveis, fornecedores, energia, IPTU e outros impostos. Ninguém tem dinheiro sobrando”, afirmou.
Em
julho do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) publicou
um decreto que permitiu a prorrogação do programa de suspensão de contrato
de trabalho e de corte de jornada, que estava em vigor desde abril.
Com
a medida, o prazo máximo do programa passou a ser de 120 dias. O decreto, no
entanto, impunha que o empregador deveria oferecer estabilidade do emprego pelo
mesmo período. Na prática, se o empresário optou por adotar a medida em julho,
por exemplo, ele precisa manter o número de funcionários até o final de março
deste ano.
Outro
fator que também pode pesar no caixa dos empresários neste início de é o fim do
prazo de carência do Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e
Empresas de Pequeno Porte).
“O
prazo médio de carência do Pronampe era de oito meses. Para quem começou em
julho, por exemplo, esse período se encerra agora, justamente quando começa a
fechar tudo de novo”, afirmou o assessor econômico da FecomercioSP (Federação
do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), André
Sacconato.
O
último levantamento feito pela federação estima que o comércio
varejista paulista possa registrar uma perda média de R$ 11 bilhões em
março com as novas restrições das atividades não essenciais —valor semelhante
aos impactos mensurados no recuo médio mensal de abril e maio de 2020, meses
mais críticos da pandemia.
Na
capital paulista, a perda estimada é de R$ 6 bilhões.
“Sem
dúvida nenhuma as novas restrições aumentarão ainda mais o número de empresas com
necessidade de encerrar as atividades. Já está todo mundo muito fragilizado,
vindo de um momento de baixa e com muitas incertezas sobre o futuro”, disse
Sacconato.
Mesmo
as empresas que já migraram
parte das suas operações para o digital não conseguiram elevar o
faturamento ao ponto de suprir as perdas com as lojas físicas fechadas.
“Esse
faturamento pode render de 10% a 30%, quando muito bem trabalhado. Então a
internet e os aplicativos ajudam, movimenta funcionários e gasta o estoque
parado, mas ainda assim é insuficiente”, disse Maricato.
As
incertezas sobre o futuro do país, segundo especialistas, também acaba
impactando em relação ao acesso ao crédito a partir de agora.
Segundo
o presidente do Simpi (Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias do Estado de
São Paulo), Joseph Couri, apesar de ter existido um hall de boas intenções para
tentar fazer com que o dinheiro chegasse na ponta, apenas 14% das pequenas
empresas tiveram acesso a alguma
linha de crédito.
“Há,
agora, mais uma incerteza sobre o assunto, principalmente porque com o aumento
da tributação sobre os grandes bancos, é possível que os juros aumentem para os
tomadores de crédito. É preciso uma conversa séria entre o sistema financeiro,
o governo e o setor privado para entender como as coisas devem caminhar”,
afirmou Couri.
“Não
há alguma ajuda ou socorro para todo mundo que vai ficar parado e ninguém
aguenta tanto tempo com tantas idas e vindas. A medida das novas restrições é
importante, mas teria que ter vindo com um colchão que minorasse os problemas
que todos os setores enfrentaram caso mais empresas fechem”, disse o o
vice-presidente da CDL (Câmara dos Dirigentes Lojistas) do Bom Retiro, Nelson
Tranquez.
Além
do socorro financeiro, os representantes também pontuam a necessidade de uma
postura mais rígida das autoridades em relação a aglomerações nas ruas e festas
clandestinas.
“Não
adianta fechar as portas dos lugares que estão restringindo movimento e
horários e não ter apetite para combater o pandemônio da 25 de março, praia,
pancadão e festas clandestinas. É preciso que seja uma via de mão dupla”, disse
Maricato.
Para
o presidente da CNC (Confederação Nacional do Comércio, Bens, Serviços e
Turismo), José Roberto Tadros, o primeiro passo do governo precisa ser na
direção do combate ao coronavírus.
“O governo primeiro precisa fazer um programa sanitário, se preocupar em trazer as vacinas, porque o número de mortes está aumentando e isso está causando pânico. Depois, também será necessário um plano bem estruturado de saneamento das empresas, que diminua a situação calamitosa em que nos encontramos. Precisamos combater o nosso inimigo em comum”, disse.
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