O
mundo em 2026 será muito, muito diferente do mundo hoje. Na quarta-feira à
noite, seis presidenciáveis publicaram um manifesto pela democracia. Começamos
cedo a falar das eleições de 2022, mas isso tem motivo de ser. Não é normal
ficar discutindo as possibilidades de um golpe de Estado. Temos, porém, um
presidente que nos empurra para esse debate. Refletir sobre que comando o
Brasil terá a partir de 1º de janeiro de 2023 é fundamental. Pois: ele descerá
a rampa do Planalto num mundo muito diferente daquele em que começará seu
mandato.
A
McKinsey, uma das principais consultorias do mundo, soltou em fevereiro um
relatório sobre o trabalho no mundo após a pandemia. A conclusão é óbvia:
tendências que já existiam em 2019, como trabalho cada vez mais remoto, aumento
do comércio eletrônico e automação de inúmeras atividades se aceleraram. Mas é
importante entender o que isso quer dizer com um pouco mais de detalhe.
Em economias desenvolvidas, entre um quinto e um quarto da força de trabalho trabalhará remotamente pelo menos três dias por semana. Quando não os cinco. Isso quer dizer que, nos cálculos dos executivos de grandes empresas ouvidos, o espaço de escritório pós-pandemia deverá diminuir 30%.
Escritórios
ficam em centros de cidades, e uma cadeia de serviços se forma ao redor. De
transporte público a restaurantes. Na outra ponta, trabalhar remotamente não
quer dizer apenas trabalhar em casa. Empresas e pessoas podem alugar espaços em
coworkings, ambientes profissionais, com ampla infraestrutura tecnológica, e a
conveniência de ser perto da casa das pessoas. É o início de uma
descentralização das cidades que mudará por completo a lógica do urbanismo
guiado pela invenção dos carros que predominou no século 20.
Outras
tecnologias entrarão nesse jogo. O 5G não é só internet mais rápida, é a
explosão da internet das coisas. Veremos mais e mais robôs, mais e mais
automação. O supermercado que não precisa de caixas, o bueiro que alerta a
prefeitura antes de entupir e, claro, o táxi ou Uber sem motorista. São, todas,
tecnologias que já existem e começarão a ser implementadas durante o mandato do
próximo presidente.
A
expectativa, este número é também da McKinsey, é que haja 20% de queda em
viagens de negócios. Virarão videoconferência. É a maior fonte de renda dos
setores de hotelaria e aviação. O de hotelaria concorrerá cada vez mais,
também, com os Airbnbs da vida.
Toda
estrutura de e-commerce, num país como o Brasil, teve de se reinventar ao redor
de um serviço de correio com inúmeras deficiências. Isso quer dizer que
explodiu o número de pequenas empresas, às vezes de indivíduos, que oferecem o
serviço de entrega no trecho final. Aquele que vai para a casa da pessoa. Assim
como os mesmos restaurantes que fecham as portas por todo lado num canto
reinventam a ideia de seu negócio no outro, virando cozinhas que entregam. Que
serão muito úteis para as pessoas que trabalham em casa ou no coworking do
lado.
Não
será nos próximos cinco anos — mas a história das fábricas da Ford que fecharam
se repetirá mais e mais. Operário é uma das profissões em via de extinção.
E
nem sequer tratamos da revolução em energia limpa, uma das indústrias pipocando
para explodir nos próximos anos. Tampouco se falou da fluidez com que
pagamentos serão possíveis de indivíduo a indivíduo — o WhatsApp Pay acaba de
ser aprovado.
Haverá
cada vez mais trabalho autônomo. A descentralização transformará o espaço
urbano, e a desintermediação facilitará que dinheiro troque de mãos. E empregar
gente boa no mundo todo já se tornou corriqueiro na Terra sem fronteiras ou
escritórios.
Fique atento a candidatos obcecados com soluções do século 20.
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