Assinado
por Ciro Gomes (PDT), Eduardo Leite (PSDB), João Amoedo (Novo), João Doria
(PSDB), Luciano Huck e Luiz Henrique Mandetta (DEM), o manifesto reúne nomes
com potencial para disputar o Planalto. Cita o exemplo do movimento das Diretas
Já, de 1983 e 84, quando forças de oposição ao regime, à esquerda e à direita,
se uniram para patrocinar a redemocratização. Alerta que “o autoritarismo pode
emergir das sombras sempre que as sociedades se descuidam e silenciam dos
valores democráticos”. Como diagnóstico, é indiscutível.
O duro, como tudo em política, é pôr em prática a ideia de um candidato alternativo a Bolsonaro e ao recém-reabilitado Luiz Inácio Lula da Silva. Um primeiro desafio para o embrião da frente está na dispersão da preferência do eleitorado entre os nomes que poderiam encabeçar uma aliança contra a polarização, aqueles que assinaram o manifesto mais Sergio Moro, que não o subscreveu alegando razões contratuais com o escritório de advocacia em que trabalha nos Estados Unidos.
Lula
não foi procurado pelos organizadores do manifesto, por se considerar que tem
sua via própria. Ele próprio vem acenando ao centro com o retrospecto de um
governo de pouca turbulência econômica e o contraste com os descalabros
bolsonaristas — embora convenientemente esqueça os escândalos de corrupção sem
paralelo na história brasileira.
Por
maior que pudesse ser o desejo de união dos signatários em nome do projeto
comum — e nem disso há certeza —, não será nada fácil romper a lógica da
polarização. Pesquisa recente do site Poder360 mostra que aqueles que não
aceitam nem Lula nem Bolsonaro representam apenas 12% do eleitorado. Para o tal
“centro democrático”, há, portanto, muita negociação política e trabalho a
fazer. A começar pela definição de pontos de um programa de governo capaz de
consolidar e ampliar a aliança. Será uma escalada íngreme morro acima. Tudo
dependerá da evolução da conjuntura econômica e política, que pode ajudar tanto
a maior adesão à aliança antibolsonarista quanto a revigoração das perspectivas
para Lula e para o próprio Bolsonaro.
O
presidente precisa se equilibrar num ambiente de dificuldades crescentes. É
protagonista da catástrofe da Covid-19, tornou a atmosfera política mais densa
ao tentar intervir nas Forças Armadas e cada vez mais depende do Centrão, que
cobra seu preço (exemplo é o Orçamento inexequível para atender a demandas
paroquiais).
A deterioração da economia ajuda a oposição. O avanço da vacinação, em contrapartida, poderá beneficiar Bolsonaro. Se 2022 chegar, e ele tiver deixado a pandemia para trás, a mudança no cenário econômico lhe traria novo vigor. Do contrário, pode nem passar ao segundo turno, e o maior adversário do centro seria Lula. O dilema da aliança é criar uma estratégia única que sirva para enfrentar dois candidatos antagônicos. Não será trivial.
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