Se,
para apear o homem, nossos generais tivessem de pôr tanques na rua, aí até eu
seria contra
Hoje
eu proponho um experimento mental. Imaginemos que os militares brasileiros deem
um golpe, mas para tirar Jair
Bolsonaro da Presidência. Como você, dileto leitor, reagiria? Se você
for bolsonarista, ficaria chateado, mas não é em sua opinião, e sim na dos
outros 70%, que estou interessado hoje.
Há
golpes e golpes. Se, para apear o homem, nossos generais tivessem de pôr
tanques na rua e promover uma ruptura da ordem constitucional, aí até eu, que
sou consequencialista e considero a neutralização de Bolsonaro uma prioridade,
seria contra.
É que, pelo consequencialismo que me parece mais viável, o “rule consequentialism”, devemos acatar as regras que, no longo prazo, contribuam para produzir mais bem do que mal. E a regra que manda evitar a violência para resolver disputas políticas se enquadra nessa categoria.
Imaginemos,
porém, um cenário menos drástico, em que os generais chamassem Bolsonaro para
uma conversa particular e o persuadissem de que seria do interesse de todos que
ele renunciasse, dando posse ao vice-presidente, como manda a Constituição.
Poderíamos
passar anos discutindo se isso configura um golpe ou se está dentro do jogo de
pressões e contrapressões que é parte inafastável da política. Admitamos,
porém, para os propósitos desta coluna, que seja mesmo um golpe, já que
idealmente militares não se metem com política. Você o aplaudiria ou vaiaria?
Se
eu tivesse escolha, gostaria que a neutralização de Bolsonaro viesse pelo
caminho mais institucional, que é o impeachment ou
a destituição após condenação penal. Mas não tenho escolha —nem vírus, nem
generais nem deputados me ouvem— e, mesmo que tivesse, as rotas ortodoxas demandariam
meses, período em que as políticas viríferas do presidente nos fariam acumular
mais alguns milhares de mortes evitáveis.
Não sei quanto a você, mas eu, em nenhuma hipótese, derramaria uma lágrima por Bolsonaro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário