O
direito ao silêncio concedido ao ex-ministro da Saúde foi parcial. Ele só
poderá se recusar a responder a pergunta que possa incriminá-lo
Está
cada vez mais difícil para o gabinete do ódio comandado pelo vereador Carlos
Bolsonaro criar narrativas a favor de qualquer coisa que beneficie seu pai, o
governo dele e aliados.
É
o caso, por exemplo, do pedido de habeas corpus da Advocacia Geral da União
para que o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, permanecesse calado
ao depor na CPI da Covid-19.
O
depoimento está marcado para a próxima quarta-feira. O ministro do Supremo
Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, atendeu ao pedido de habeas corpus, mas
só parcialmente.
Pazuello
ganhou o direito de não responder perguntas que possam incriminá-lo, mas será
obrigado a dizer a verdade em questões sobre fatos e condutas de outras
pessoas.
André
Mendonça, chefe da Advocacia-Geral da União, achou que não lhe cabia entrar com
o pedido no Supremo. Pazuello então contratou um advogado particular para
fazê-lo.
A parada foi decidida pelo presidente Jair Bolsonaro que mandou Mendonça seguir em frente com medo de que Pazuello se sentisse abandonado e à vontade para contar o que deveria esconder.
Como,
sem dizer a verdade, Carlos e seus comparsas do gabinete do ódio poderão
convencer os devotos do seu pai de que ele fez o melhor ao patrocinar a causa
de um general em fuga?
Em
2014, durante a CPI da Petrobras na Câmara, Onyx Lorenzoni, atual ministro da
Secretaria-Geral da Presidência e à época deputado, escreveu em uma rede
social:
–
Toda vez que bandido veio à CPI quis ficar calado.
No
ano seguinte, durante outra sessão da CPI, Onyx criticou o silêncio do
ex-diretor internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, envolvido no escândalo
do Petrolão. Disse:
–
Nunca vi gente decente, com a verdade do seu lado, se valer desse direito [ao
silêncio]. Sempre que se usa esse direito, na verdade, é porque tem algo a
esconder.
Meses
depois, voltou a usar uma rede social para criticar Renato Duque, ex-diretor de
Serviços da Petrobras, que estava preso quando prestou depoimento à CPI:
–
Questionei Duque sobre o fato de ele preferir se calar. Todos os bandidos que
usaram o direito ao silêncio na CPI já foram ou estão presos.
Em
2016, o deputado Eduardo Bolsonaro, também criticou um depoente que ficou
calado durante a CPI da Funai e Incra:
–
Eu sei que tem o habeas corpus preventivo para não poder falar. Perde esta
excelente oportunidade. É uma pessoa covarde, que não tem um pingo de vergonha
na cara.
A
depender do que disser, Pazuello acabará abandonado pelo governo ao qual serviu
com tanto desvelo e obediência.
Covas
travou com bravura e perdeu a última batalha de sua vida
Prefeito
de São Paulo eleito em outubro último, Bruno Covas deixa exemplo de coragem e
de transparência no tratamento de sua doença
O fim da vida para o prefeito de São Paulo Bruno Covas (PSDB), 41 anos, poderia ter sido de menos sofrimento e maior satisfação para ele, família e amigos se não tivesse sido candidato à reeleição.
Seu
estado de saúde, à época, inspirava cuidados e ele sabia disso. Os médicos
jamais o enganaram a respeito. A medicina é cada vez mais capaz de antecipar o
que virá, e mais ou menos quando.
Foi
ele que decidiu mesmo assim arriscar-se em uma eleição que costuma cobrar muito
dos candidatos mais competitivos e com maiores chances de vencer. Política é
uma droga viciante.
De
resto, quem teria coragem de tentar convencê-lo do contrário sob a alegação de
que poderia ter pouca vida pela frente? Era o que os diagnósticos médicos
indicavam com razoável clareza.
Covas
foi em frente, viu, venceu e agora… Seguia internado no Hospital Sírio Libanês,
em São Paulo, até o início desta manhã. Seu quadro clínico era considerado
irreversível.
Travou
e perdeu uma dura e sangrenta batalha contra um tumor na cárdia, região de
transição entre o esôfago e o estômago, detectado em 2019. O câncer espalhou-se
por todo o seu corpo.
A
doença e a disposição de desafiá-la com bravura e total transparência fez Covas
crescer aos olhos dos paulistanos, e isso foi decisivo para que derrotasse
Guilherme Boulos (PSOL).
Seu
vice, Ricardo Nunes (MDB), é pau mandado de Milton Leite (DEM), presidente da
Câmara Municipal pela sexta vez, um político controverso que aprecia extrair
vantagens em tudo.
Nunes
tem 53 anos, é advogado e empresário. Foi vereador em São Paulo por duas vezes.
Durante a campanha de Covas, acusações de violência doméstica o atingiram em
cheio.
Antes disso, Nunes ganhara notoriedade na mídia por ser ativamente contra a inclusão de temas de sexualidade e gênero no Plano de Educação da capital paulista.
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