A
disputa entre Lula e Bolsonaro interessa a ambos, mas não ao país
As
mudanças nas regras eleitorais em 2015, ainda vigentes, fizeram em 2018 a
campanha eleitoral durar apenas 45 dias, em vez de noventa. Além disso, foram
banidos os financiamentos empresariais de campanhas e estabelecido um teto de
gastos por tipo de candidatura.
Outra
consequência importante de tais mudanças foi dar maior relevância aos
potenciais candidatos no período pré-eleitoral. É o que está acontecendo
agora. No Congresso e nos partidos e, obviamente, na Presidência da República,
a pré-campanha já está em curso.
Mas
enquanto o debate sucessório toma o mundo político, o eleitorado ainda se
mantém distante do tema. A Covid-19 e o desemprego são questões
prioritárias e decisivas para a escolha do próximo presidente em 2022. E o
debate midiático sobre a política ainda não causa efeito mobilizador entre o
eleitorado.
No momento, dois presidenciáveis largam na frente. O primeiro é Jair Bolsonaro, que, pela força do cargo, tem condições de impor sua narrativa, o que, naturalmente, terá grande repercussão. Além disso, Bolsonaro conta com forte apoio nas redes sociais. Embora outros presidenciáveis também façam uso dessas mídias, só ele possui militância engajada com capacidade de disseminar conteúdo nas redes.
“Um
problema do centro político é que, quando se tem muitos candidatos, na verdade
não se tem nenhum”
Quem
também leva vantagem na pré-campanha é o ex-presidente Lula (PT). Apesar de o
Lula de hoje não ter, por exemplo, a força do Lula de 2010, quando foi o maior
responsável pela eleição de Dilma Rousseff, ele mobiliza a maior parte das
esquerdas. Sem contar que parte significativa do eleitorado, sobretudo no
Nordeste, e os segmentos de menor renda têm uma lembrança positiva de seu
governo no campo econômico e social.
As
demais opções — João Doria (PSDB), Eduardo Leite (PSDB), Tasso Jereissati
(PSDB), Ciro Gomes (PDT), Luiz Henrique Mandetta (DEM), João Amoêdo (Novo),
Luciano Huck e Sergio Moro — não estão apresentando narrativa consolidada nem
militância partidária ou digital engajada.
No
centro político existe uma dúvida sobre se o engajamento eleitoral deve ser
antecipado. Tal dúvida se fortalece pelo fato de não haver um candidato natural
que aglutine as forças de oposição. Quando se tem muitos candidatos, na verdade
não se tem nenhum. É o caso. Nenhum dos nomes acima aglutina, e a luta por uma
frente ampla contra Bolsonaro e Lula parece difícil de ser construída. Mas isso
não deixará de ser tentado.
Enquanto
o centro político está desorganizado e parte do Centrão já foi cooptada por
Bolsonaro, o que deve acontecer nos próximos meses? Enquanto se tenta uma
frente ampla contra Bolsonaro e Lula, eles devem tentar rachar o centro tendo
em vista neutralizá-lo. A desunião do centro interessa tanto a Lula quanto a
Bolsonaro.
Não
à toa a estratégia preferencial de Lula é manter Bolsonaro sob pressão, sem,
porém, que ele seja inviabilizado pela CPI da Covid: que ele se mantenha no
poder, mas enfraquecido. Já Bolsonaro aposta que seu adversário ideal é Lula,
uma vez que acredita que o antipetismo forçaria o eleitorado centrista a
escolhê-lo. Sendo assim, a polarização acirrada interessa a ambos, ainda que
não necessariamente ao país.
Publicado em VEJA de 19 de maio de 2021, edição nº 2738
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